Cosmopolis, 2012
Legendado, David Cronenberg
Formato: AVI
Aúdio: Inglês
Legenda: Português
Duração: 104 minutos
Tamanho: 690 Mb
Servidor: Mega (Parte única)
SINOPSE
A cidade de Nova Iorque está em tumulto e a era do capitalismo está
chegando ao fim. Uma visita do presidente dos Estados Unidos paralisa
Manhattan e Eric Packer (Robert Pattinson), o menino de ouro do mundo
financeiro, tenta chegar ao outro lado da cidade para cortar o cabelo.
Durante o dia, ele observa o caos e percebe, impotente, o colapso do seu
império. Packer vive as 24 horas mais importantes da sua vida e está
certo de que alguém está prestes a assassiná-lo.
Fonte: AdoroCinema
ANÁLISE
O organismo infectado de Cronenberg
O mundo em Cosmópolis (Cosmopolis,
2012) só é visto através de uma tela. De janelas de carro, de televisões
embutidas em limusines, da própria tela do cinema. A violência selvagem
e desvairada, as revoluções que não são televisionadas, a morte de
ícones de uma geração, os atentados políticos e corporativos... Tudo é
contemplado, ao longe, por Erick Parker. Que conversa, conversa e
conversa. Realista, cínico, cruel e franco com as pessoas que saem e
entram da sua limusine com aparência de salão real – e elas são tão
alienadas e irônicas quanto o protagonista. Erick quer conseguir um
corte de cabelo, e cruza uma metrópole em nome disso. Ele transa,
realiza exames médicos, bebe e confere os últimos dados da bolsa dentro
da limusine. Esse é o seu trono e a sua prisão: o acuado dono do mundo
de Cosmópolis quer fugir da sua fortaleza sobre rodas.
A narrativa distante, estranha e desdramatizada de
Cronenberg é como a atmosfera que o próprio cria: dentro do grande carro
de luto, Erick é testemunha de tudo mas não é participante de nada. Os
longos diálogos, tirados de forma praticamente integral do romance de
Don Delillo, conciliam duas óticas de mundo sob uma mesma obra:
convergindo o interesse de Delillo e sua linguagem contemporânea e
crítica às mídias de massa, a guerra fria, a era digital, o terrorismo e
a televisão, há o interesse de Cronenberg em retratar um homem e seu
interior criado para ser perfeito (a limusine) e sua relação
exteriorizada com o resto do mundo: sempre que ele sair do luxuoso
veículo irá, progressivamente, tornar-se mais vulnerável. Esta parece
ser justamente a sua busca: se dentro do veículo manda e desmanda,
arranca confissões, dá ordens, transa com mulheres, lá fora tenta
transar com sua esposa frígida em três momentos diferentes do dia (café
da manhã, almoço e jantar), pede para uma segurança atirar com uma arma
de choque em seu peito e, finalmente, ao final do filme, tem de encarar
aqueles que pagam o preço pela sua concentração excessiva de renda,
estimada na casa dos bilhões – o quanto, nem ele sabe dizer.
A aberração física típica dos filmes de Cronenberg
dessa vez é mínima mas o suficiente para, por algum motivo, inquietar: o
momento em que o filme começa, de fato, é quando durante um exame de
próstata que ele faz, dentro do carro, enquanto conversa com uma
conhecida sua sobre negócios e o médico constata que Erick tem uma
próstata assimétrica. Uma informação sem finalidade nem forma para o
homem que quer saber da origem de tudo (do seu dinheiro, do dinheiro dos
outros, e inclusive para onde vai a limusine que dirige) que, pouco a
pouco, vai tirando-o do eixo.
Se o que acontece, de fato, é alterado por um detalhe
mínimo, assim é a história de Cosmópolis, assim é a maneira que
Cronenberg filma: assim como partes anatômicas do protagonista (ou de
qualquer indivíduo), a câmera do canadense é infectada igualmente pelo
“vírus” da anormalidade; disforme e fora da linha do horizonte, com
alturas de câmera desconfortáveis, planos fechados esmagadores, lentes e
movimentos que descrevem toda a tecnologia concentrada da vida moderna
em um só lugar – conciliada com a cenografia do filme, os cenários
simétricos e claustrofóbicos e as roupas perfeitamente alinhadas
sugerem, ainda que vagamente, o ambiente de uma prisão – a prisão dos
abastados, dos homens do capital, dos superadaptados. Que, como em Calafrios (Shivers, 1975) e A Mosca (The Fly, 1986), irão através de algum pretexto liberar o lado bestial e sempre confinado.
E a missão de Cronenberg e de alguns personagens
nesta obra que podem vagamente lembrar seus alter-egos (como um
protestante que gosta de arremessar tortas ou o homem falido
interpretado por Paul Giamatti, apresentado no ato final) é mesma missão
do escritor, matador de insetos e guerreiro do submundo Bill Lee, de Mistérios e Paixões (Naked Lunch,
1991): a guerra contra o racionalismo frio e indiferente, contra o
desejo castrado, contra as ditaduras da estética. E é por isso que, mais
uma vez, o diretor compõe personagens que apenas parecem normais à uma
primeira vista: no final das contas, eles são justamente a palavra que
perturba Erick: assimétricos.
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