sábado, 15 de dezembro de 2012

O HOMEM SEM PASSADO - 2002

Mies vailla menneisyyttä, 2002
Aki Kaurismäki
Formato: AVI
Aúdio: Finlandês
Legendas: Português
Duração: 92 minutos
Tamanho: 699 Mb
Servidor: Zippyshare
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SINOPSE
Após uma longa viagem a Helsinque, um homem é espancado com tanta intensidade que perde a memória. Como não consegue emprego ou um apartamento para morar, ele começa a viver no submundo da cidade, onde encontrará pessoas com dificuldades que o ajudarão a viver.
Fonte: Cineplayers 


ANÁLISE

por Ruy Gardner

Como fazer uma fábula contemporânea sobre o estranhamento do presente e o processo de reificação que progressivamente intermedia nossas relações com a sociedade? Tome um homem: ele chega de trem numa cidade nova. Caminhando pela rua, ele é impiedosamente espancado por um grupo de ladrões, que de quebra lhe roubam todos os pertences pessoais. Levado ao hospital, sobrevive em aparelhos até que todos os sinais da máquina (mais uma vez aí a vida, a humanidade é um índice a ser considerado eletronicamente) revelam que esse homem não tem mais atividade cerebral ou batimentos cardíacos. Quando o barulhinho já clássico de morte começa a povoar nossos ouvidos, o médico e a enfermeira saem da sala. Mas surpresa: esse personagem vive. Talvez não: talvez ele não seja mais um personagem, alguém que tenha uma individualidade, um interior ao qual poderíamos designar "sujeito". Ele é simplesmente uma presença, um dado a mais. Amnésico, sem saber seu nome ou proveniência, desprovido de quaisquer atributos psíquicos ou materiais, ele precisa construir do zero uma existência para ele. 

A maior parte das histórias saberia por onde seguir seu caminho: o personagem vai levar o longo do filme para descobrir quem ele é, reencontrar suas raízes, retomar a vida que vivia. O herói sem passado de Aki Kaurismaki faz o percurso inverso. Ele quer viver como ele é, não como aquilo que ele não é mais: ele aceita positivamente sua pecha de homem sem passado. A estranha descoberta chega rapidamente: a sociedade não permite homens sem passado, ela precisa que a cada individualidade seja atribuído um nome, um cartão de identificação, uma atividade. Nessa inadequação entre um personagem que não pode (nem quer) viver com dados que são estranhos a ele e uma sociedade que o obriga em algum grau a ter algum tipo de subjetividade institucionalizável é que O Homem Passado consegue produzir uma beleza difícil, estranha, às vezes cínica, às vezes apenas desencantada, onde o riso (sim, curiosamente trata-se de uma comédia) serve como elemento deflagrador jogos sociais que de alguma forma impedem e atrapalham nosso herói sem nome: precisar de um nome para abrir uma conta, para encontrar um trabalho, para não ser preso... 

Filmado numa palheta de cores fria com algum calor (os negros sempre sobressaem, mas as cores fortes são bastante pregnantes), O Homem Sem Passado lembra cromaticamente os filmes alemães dos anos 70, da geração Wenders-Fassbinder-Herzog. Curiosamente, o filme desenvolve para além da fotografia um possível diálogo com essa trinca. Se a preocupação maior desses três cineastas era a inadequação de seus personagens a uma sociedade que não os aceita (Fassbinder) ou suporta (Herzog), a de O Homem Sem Passado não é diferente: mostra como um homem precisa construir para si um mundo diferente daquele que é dado como padrão na sociedade, e seu corolário, ou seja, como a sociedade faz de tudo para dificultar essa possibilidade de linha de fuga. Assim, fica tranqüilamente do lado do Wenders de Alice nas Cidades ou No Decurso do Tempo.

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