sexta-feira, 31 de maio de 2013

OS RENEGADOS - 1985

Si toit ni lois, 1985
Legendado, Agnès Varda

Classificação: Bom

Formato: AVI 
Áudio: inglês
Legendas: português
Duração: 105 min.
Tamanho: 1,36 GB
Servidores: Mega (2 partes)

LINKS

SINOPSE
É inverno no sul da França e o corpo de uma jovem é encontrado em um fosso. Mona (Sandrine Bonnaire) era uma andarilha e passou seus últimos dias andando pelas estradas francesas. Aqueles com quem Mona cruzou, conheceu ou conversou são os que contam quem ela era e o que aconteceu.

Fonte: Adorocinema
The Internet Movie Database: IMDB - NOTA IMDB: 7.6


ANÁLISE

O fantasma da liberdade

Com Sem Teto Nem Lei, Varda encara o desafio de perguntar o que é ser livre. Curiosamente, para fazer isso cria uma estrutura de absoluto controle em sua mise-en-scène. Não há aqui nenhum sinal de improviso: cada travelling tem seu início e fim marcados. Como acontece com a trajetória da protagonista, o trajeto da câmera também está sempre definido de antemão. Mona está morta. O fim da linha está dado. É deste dado que o filme parte. No fundo do plano há solos áridos, galhos retorcidos, máquinas enferrujadas, portas invariavelmente fechadas e troncos decepados. Todo o caminho de Mona é uma dança da morte. É a morte que vemos agir no rosto, nos trajes, na terra seca e nas mãos calejadas. É sua ação, seu trabalho, que nos é dado a ver nos galhos, nas paredes, nas máquinas e nos corpos.

Agnès Varda

Entretanto, Mona não é a única morta, mas a única viva. É somente ela quem pode renunciar a tudo, inclusive a si mesma, a sua existência. Sua liberdade é essa: não ter identidade, objetivo ou causa. Não ter nada é a única forma de poder ter tudo, de poder ser tudo, de manter vivas as possibilidades. O que o filme busca é tentar apreender algo dessa força sem nome que emana da protagonista, interpretada por Sandrine Bonnaire. E apreender é solidificar, é dar nome. Varda decide pelas impressões, pelo que fica nos personagens pelos quais Mona passa, por suas narrações. A opacidade da personagem funciona como um espelho desses olhares. Assim, acaba revelando uma espécie de inventário de submissões e prisões pelas quais cada um daqueles personagens optou no seu esforço de solidificação, de se tornar estático, de fundar suas raízes num espaço específico, de conformação a alguma forma de status quo. É o oposto do que acontece com a protagonista, cuja morada é somente o movimento, o tempo em toda sua possibilidade. Mona representa o que é inapreensível.

Varda nos coloca dentro desde jogo onde, a cada segmento, achamos que Mona se apaixonou, se afeiçoou, escolheu uma causa ou uma casa. Mas ela sempre escapa, seja num sorriso fora de hora, ou numa moeda que não vai para o pão mas para a jukebox. A liberdade da protagonista coloca em questão todos os laços, compromissos e objetivos de quem passa por ela. Mona põe qualquer tentativa de imobilização, de retenção, em xeque – seja ela o trabalho de estudar árvores mortas, ou a decisão do ex-hippie de se fixar e “deixar a estrada”, a aceitação das regras pelo seu amigo tunisiano, ou mesmo a vagabundagem aproveitadora de seus últimos companheiros. Ela nunca se insere por completo, nunca se conforma ou ajusta. Seu compromisso é exatamente não ter nenhum. Nem mesmo com a estrada.


Mona é o vazio como potência. O vazio que nós e todos os narradores de Sem Teto Nem Lei preenchemos, a cada novo movimento, com espanto renovado. Não é vítima, vagabunda, hippie ou niilista. Ela representa justamente a falência de todas as narrações que estruturam o filme. Varda coloca estes registros em curto-circuito: seja ele o discurso da lógica, da busca racional pelas causas dos atos de Mona, de começos e fins; todos se deparam com um objeto que impõe seu limite. Mona é seu reverso. Não tem causas, nem objetivos, ela somente está. Presente em cada momento. Seu (não) compromisso é com a possibilidade como forma de existência. A cada cena, é isso que ela exerce, sem ter isso como meta.

Trata-se então de uma espécie de falso filme de desencanto. A política, que em toda a obra de Varda ocupa um lugar de destaque, tem aqui um dos seus ápices mais visíveis. Ela cria uma estrutura de conflito entre os personagens narradores e Mona, colocando justamente duas formas políticas em xeque: a da representação, da equivalência e da lógica, e outra absolutamente anárquica, sem causa, porém não niilista. Esta segunda é uma política do presente, da presença, da insubmissão do corpo, da não sujeição absoluta que prega a liberdade dos corpos em relação às identidades ou a qualquer outro tipo de pertencimento. O que é ser livre? Em Mona, a resposta parece começar a partir do momento em que para ela essa pergunta inexiste. É sê-lo indiferentemente, sem ter que optar por isso, para além desta palavra ou ideia.

Análise retirada do site Cinetica



quarta-feira, 29 de maio de 2013

HISTÓRIAS QUE SÓ EXISTEM QUANDO LEMBRADAS - 2011

Histórias Que Só Existem Quando Lembradas, 2011
Júlia Murat

Formato: AVI
Aúdio: Português
Legenda: Português
Duração: 96 min.
Tamanho: 700 MB
Servidor: Dropbox

LINKS:

SINOPSE
Na cidade fantasma de Jotuomba, onde o tempo parece ter parado, a rotina de Madalena é interrompida pela chegada da jovem fotógrafa, Rita. Esta é uma silenciosa e delicada fábula sobre o tempo e a memória.
Fonte: Cineplayers


ANÁLISE

Enquadrar.

por Thiago Brito

Em Histórias que Só Existem Quando Lembradas, duas coisas são importantes: de um lado, o desejo de reclusão; do outro, a necessidade (e não a vontade) de encontrar seu lugar no mundo; de, enfim, pertencer. Os dois pontos não são mutuamente exclusivos, mas se interpenetram e lançam um sem número de questões e dúvidas, que muitos filmes brasileiros aparentemente procuram resolver. No caso de Histórias..., a característica reclusiva da pequena cidade nos indica que, para resolver o segundo ponto, uma aposta é feita ao outro lado da moeda: saímos do grande centro, e rumamos para o interior. Se a cidade grande se tornou sufocante, uma mixórdia indistinta de referências e signos, e sua opulência, mais do que criar uma diversidade de vielas, abarrotam ou bloqueiam a vista, a "fuga" para um interior cada vez mais interior, mais recluso e esquecido, aparece como um horizonte em branco, um espaço onde possivelmente alguma coisa possa permanecer, fincar e então desenvolver-se. O interior, assim, renasce como possibilidade de renovação, um espaço que se transfigura de um passado atrasado, para um presente vivificante. 

Um dos pontos mais interessante do filme de Julia Murat vai exatamente na perspectiva clara de que a viagem não é tão interessante quanto o ponto de chegada. Ou melhor, se por uma década a estrada se apresentou como um espaço de sobrevivência para uma boa parcela dos filmes brasileiros, ou pelo menos experiência, estamos agora diante de um filme que quer chegar e se alojar, de uma personagem que não quer, como Rita mesmo coloca, fingir pertencer a um lugar que não pertence. Sua viagem tem um desafio e um objetivo: voltar a pertencer, encontrar, ao invés de uma imagem fantasmática da vida, ao invés de um fluxo eterno de sensações, também a necessidade de se acomodar em um espaço, em uma comunidade, entrar em comunhão. E, para atingir este objetivo, é pedido a Rita que force seu caminho dentro daquela comunidade, que incomode sensivelmente seu cotidiano e procure um contato efetivo. Então, note: este contato não pode, em absoluto, se dar de forma indireta, afastada; a personagem deve se apresentar integralmente - isto é, não pode fingir gostar do que não gosta, ou ser da maneira que não é. Taí, uma radicalidade maravilhosa: se é pra encontrar um espaço ou comunidade onde se decida viver, é preciso fazê-lo integralmente, sem falsas modéstias ou admiração maravilhada. Em um sentido, é o que faria da viagem da personagem não uma fuga, mas um ato corajoso.

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terça-feira, 28 de maio de 2013

TRABALHAR CANSA - 2011

Trabalhar cansa, 2011
Juliana Rojas, Marcos Dutra


Formato: AVI 
Áudio: português
Duração: 99 min.
Tamanho: 1,36 GB
Servidores: Mega (2 partes)

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SINOPSE
Helena (Helena Albergaria) é uma dona de casa que resolve abrir um minimercado. Tudo vai bem até Otávio (Marat Descartes), seu marido, perder o emprego. A partir de então estranhos acontecimentos tomam conta do local, afetando o relacionamento do casal com a empregada doméstica.

Fonte: Adorocinema
The Internet Movie Database: IMDB - NOTA IMDB: 6.4


ANÁLISE


Esses dias vi numa dessas redes sociais uma imagem sarcástica  que dizia algo do tipo "tudo parece oficial com pequenas folhas ao seu redor". Trabalhar Cansa, filme de Juliana Rojas Marco Dutra tem vários louros destes no cartaz. Os mais nobres são os da mostra Un Certain Regard, do Festival de Cinema de Cannes, e o de ganhador de prêmios do júri do Festival de Paulínia.
Durante a exibição de Trabalhar Cansa, eu me mantive compenetrado, esperando a todo instante o momento da virada, que mostraria, enfim, porque o longa fora escolhido para representar o país no mais nobre festival de cinema do mundo. Quando o tal momento chega, traz junto o arrependimento. Não sei até agora se o desespero ali era de Otávio (Marat Descartes) ou dos cineastas, na tentativa de chocar o público com uma catarse que se mostra apenas gratuita.
A trama, de cunho bastante psicológico, acompanha a vida de Helena (Helena Albergaria), dona de casa que decide investir em um mercadinho de bairro. Para ganhar algum tempo livre, ela contrata Paula (Naloana Lima), empregada que vai ajudá-la com a casa e com a filha, Vanessa (Marina Flores). O problema é que a oportunidade aparece bem na hora que seu marido é demitido e as contas começam a atrasar. Na época do Natal, soma-se às dificuldades enfrentadas por um cada vez mais desmotivado Otávio a visita de sua sogra.
No mercadinho Curumim, as coisas não vão melhor. Helena começa a desconfiar de seus empregados, o local não para de apresentar problemas (de esgoto, infiltração, etc.) e, para piorar, algo muito Arquivo X aparece escondido por ali, com presas enormes, aumentando a bizarrice toda da situação.
Perdoem a minha total falta de sensibilidade artística, mas não entendo. Não entendo os festivais e não entendo quem votou no filme. Enfim, não entendo o filme. Percebo a crítica social, que mostra a classe média paulistana (e brasileira). Vejo ali a bronca contra a sociedade, que descarta profissionais competentes apenas para contratar outros mais novos e baratos, deixando sem espaço essas pessoas mais "experientes". Pego até mesmo o puxão de orelha dado contra esta mesma classe média que não sabe pedir "por favor", nem dizer "obrigado" e acha que está o tempo todo sendo passada para trás. Mas não existem mesmo outras formas de mostrar tudo isso que não seja pela estranheza?
Análise retirada do site Omelete














quinta-feira, 23 de maio de 2013

O SOM AO REDOR - 2012

O som ao redor, 2012
Kleber Mendonça Filho


Formato: AVI 
Áudio: português
Duração: 131 min.
Tamanho: 1,82 GB
Servidores: Mega (2 partes)

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SINOPSE
A presença de uma milícia em uma rua de classe média na zona sul do Recife muda a vida dos moradores do local. Ao mesmo tempo em que alguns comemoram a tranquilidade trazida pela segurança privada, outros passam por momentos de extrema tensão. Ao mesmo tempo, casada e mãe de duas crianças, Bia (Maeve Jinkings) tenta encontrar um modo de lidar com o barulhento cachorro de seu vizinho.

Fonte: Adorocinema
The internet movie database: IMDB - NOTA IMDB: 7.6


ANÁLISE


O Som ao Redor é um filme de rara pregnância. Seu gestos aderem ao mundo como poucos vistos no cinema recente – e não só brasileiro – o que explica parte de sua reverberação (outra parte, bastante significativa, fica a cargo dos imponderáveis, e os imponderáveis são o limite de toda crítica). Essa aderência, porém, se dá por um esmero que não está exatamente no polimento das engrenagens – ao contrário, O Som ao Redor não tem o polimento como uma das suas qualidades, e isso sim é uma das suas qualidades. A aderência vem por o trabalho de Kleber Mendonça Filho preservar, em suas articulações, as ranhuras exatas que se encaixem na topografia do pedaço de mundo no qual ele se insere – ou seja, em confluir, com precisão e sem ceder às concessões ou ao temor de se comunicar, uma visão artística com o tempo histórico, com o espaço que deseja ocupar, com a ontologia do que ele trata, e com uma pequena brecha no olhar do espectador que o permite ser surpreendido sem perder sua adesão.
A esta altura, muito já foi escrito constatando o encaixe. Talvez reste falar, ainda, algo sobre as engrenagens e os movimentos que elas permitem. Pois O Som ao Redor – e, a rigor, toda a obra de Kleber Mendonça Filho – é um filme em que o controle absoluto determina certos efeitos, e os efeitos, por sua vez, reafirmam o controle. Seu valor, portanto, não está somente na crítica de costumes, na arguta leitura histórica, no vigor quase absoluto da encenação… mas sim em como cada um desses aspectos é controlado de maneira a gerar um re-encaixe, de pegar peças que, embora espalhadas, já traziam no recorte do corpo a justeza de seus lugares. Por mais que seu aspecto político seja determinante (ainda mais por ser uma política também interna à arte: O Som ao Redor é um filme, não um panfleto – e como filme ele é mais forte em abalar o sensível do que em lhe escorar com certezas), a idéia já bastante cristalizada do filme como crítica social parecia, em geral, se anular justamente na insistência de uma estratificação desse retrato: Pernambuco; classe-média; Recife; novos ricos; a herança dos engenhos; Setúbal. De fato, O Som ao Redor se passa em tempo e lugares específicos, mas a atenção do filme (e o que o torna francamente especial) reside em dois movimentos mais amplos e que afirmam, ao mesmo tempo, sua força artística e política.
O primeiro movimento é a maneira como a câmera alterna entre duas posturas antagônicas: uma posição bastante frontal e concentrada em relação ao que filma; e uma espécie de política da digressão. Essa digressão é política justamente por ser pontual – falem o que quiserem do tom das atuações, da porosidade de seu “discurso”, mas O Som ao Redor nunca poderia ser chamado de um filme digressivo – e por seus momentos isolados se colocarem em confronto com a atenção direta e detida em uma cena que, em geral, está onde a ação está. Por oposição, nos vôos baixos dessa digressão, o filme não foge, não se nega a olhar, mas simdesloca onde está a ação. Não é, portanto, uma negação do olhar frontal, mas um desvio de o que seria merecedor dessa frontalidade, uma forma de trazer a borda da imagem para o centro. Uma espécie de “efeito Duchamp”.
Há alguns momentos expressivos em que a câmera se permite desviar, olhar para o lado, mas um deles é especialmente ilustrativo: após a já célebre reunião de condomínio em que os moradores de um prédio discutem demitir por justa causa um porteiro, Sr. Agenor, que dorme em serviço, João (Gustavo Jahn) vai se encontrar com Sofia (Irma Brown), e nesse trânsito a câmera se permite tomar uma curva, abandonar as personagens, e ir mostrar o próprio Sr. Agenor, que observa o casal se atracando no elevador, por uma câmera de segurança. Embora O Som ao Redor se permita também seguir, com intenções parecidas, uma doméstica que vai para seu quarto trocar de roupa, ou ainda acompanhar o filho de Maria, empregada de João – sempre em gesto de aparente gratuidade, mas como se dissesse: não se esqueça destes aqui – a ida até o Sr. Agenor neste momento se destaca por ao menos dois motivos. Em primeiro lugar, por neutralizar o bom mocismo que tenta enxergar o lado do “outro”, ao negar o caminho fácil da vitimização de classe – postura que sempre marcou parte de nosso pior cinema. Sr. Agenor, dizia João, é de fato o pior porteiro de todo o Recife, e o filme nos dá ainda outros motivos para que a personagem não evoque compaixão, sequer simpatia. O Som ao Redor não é condescendente, tampouco nega a existência do outro; sua afirmação é sinal do reconhecimento de autonomia.
Mas há outra implicação mais profunda e interessante neste gesto: se existe uma política possível nessa digressão, o que difere o gesto da câmera de O Som ao Redor do vídeo insuspeito feito pelo filho de um dos proprietários, coletando imagens do porteiro dormindo? Basicamente o fato de a digressão, aqui, ser uma forma de incluir o que se tentava manter fora, de trazer fisicamente o Sr. Agenor para uma discussão que, embora lhe diga respeito, lhe é negada. É, portanto, um movimento de câmera politicamente inverso ao sistema de demissão indireta adotado por toda empresa que possui um setor de RH – e também inverso ao sistema de eliminação, de queima de arquivos e de concorrência, sobre o qual – saberemos ao final do filme – Francisco (W.J. Solha) ergueu seu império.
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terça-feira, 21 de maio de 2013

O DIA QUE DUROU 21 ANOS - 2012

O dia que durou 21 anos, 2012
Camilo Tavares

Classificação: Excelente

Formato: AVI 
Áudio: português
Duração: 77 min.
Tamanho: 810 MB
Servidores: Mega (Parte única)

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SINOPSE
Este documentário mostra a influência do governo dos Estados Unidos no Golpe de Estado no Brasil em 1964. A ação militar que deu início a ditadura contou com a ativa participação de agências como CIA e a própria Casa Branca. Com documentos secretos e gravações originais da época, o filme mostra como os presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson se organizaram para tirar o presidente João Goulart do poder e apoiar o governo do marechal Humberto Castelo Branco.

Fonte: Adorocinema
The Internet Movie Database: IMDB - NOTA IMDB: 6.0