domingo, 28 de dezembro de 2014

A LESTE DE BUCARESTE - 2006

A fost sau n-a fost?, 2006
Legendado, Corneliu Porumboiu
Classificação: Excelente

Formato: AVI
Áudio: romeno
Legendas: Pt-Br
Duração: 89 minutos
Tamanho: 655 MB
Servidor: Mega (Parte única)

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Parte única

SINOPSE
No aniversário de 16 anos da queda do ditador Ceausescu na Romênia, uma emissora de TV local decide reunir pessoas para um debate sobre o tema. Entre os convidados estão Piscoci (Mircea Andreescu), um velho aposentado, e Manescu (Ion Sapdaru), um professor de história que analisa as mudanças locais ocorridas desde 25 de dezembro de 1989, data de execução do ditador.

Fonte: Adorocinema
The internet movie database: IMDB - NOTA IMDB: 7.4



ANÁLISE

Novo cinema romeno (ou as narrativas do tripé quebrado)

Em um determinado momento de 12:08 Leste de Bucareste, estréia em longa-metragem de Corneliu Porumboiu (ganhador da Camera d`Or em Cannes 2006), o dono de uma pequena emissora de televisão questiona, durante um programa de entrevistas do qual também é entrevistador, por que o cinegrafista está subvertendo os enquadramentos. O cinegrafista, que já havia sido repreendido antes por filmar um grupo musical no estúdio da emissora com a câmera na mão, retruca na lata: "O tripé quebrou". Pois essa imagem do tripé quebrado e seus efeitos na imagem do programa (e do filme) podem ser tomadas como metáfora-síntese desse e de outros dois filmes romenos presentes no Festival do Rio e na Mostra de SP: Doentes de Amor, de Tudor Girgiu, e Como Festejei o Fim do Mundo, de Catalin Mitulescu (prêmio de melhor atriz para Doroteea Petre na mostra Un Certain Regard).

                                                          Corneliu Porumboiu

Os três realizadores são estreantes, todos com idade inferior a 35 anos. Essa proximidade geracional não explica, completamente, as características em comum entre seus filmes, já que, no estilo e nos enfoques, cada uma das obras tem suas próprias distinções. Também não se pode vê-las apenas como resultado de um outro tipo de proximidade – a cultural e geográfica com os vizinhos ex-comunistas do Leste Europeu. Se é inegável o parentesco desses filmes, em níveis variados, com certo cinema iugoslavo (dos anos 70 em diante), também parece se insinuar, em suas dinâmicas, algo próprio do contexto romeno, não apenas por serem fincados no universo histórico/identitário do país (no fim ou após a era Ceaucescu, ditador do período comunista, que caiu do poder na virada de 1989 para 1990), mas, sobretudo, por adotarem ou serem adotados pela "dramaturgia do tripé quebrado".

Se o cinegrafista de 12:08 A Leste de Bucareste subverte o padrão de enquadramento ao tomar a câmera na mão no estúdio de televisão, mudando o padrão "câmera no tripé" até o momento da entrevista anedótica, nesses filmes também há uma subversão da estrutura organizadora dos fatos exibidos. Esse cinegrafista, portanto, sintetiza os cineastas. Cada um deles parece dar uma banana para uma noção adequada de roteiro, abrindo mão da organização para se concentrar na força autônoma dos fragmentos. É como se o tripé do roteiro, para insistirmos nessa imagem tão feliz, tivesse quebrado, abrindo passagem para uma narrativa torta, às vezes destrambelhada, às vezes de entendimento rarefeito ou confuso, mas que, justamente por conta dessa anarquia menos ou mais controlada, impõe-se com frescor, vitalidade e originalidade, ainda que com êxitos distintos (menos em Doente de Amor, mais em 12:08 Leste de Bucareste).


Tomemos como exemplo 12:08 Leste de Bucareste. A primeira metade é uma reunião de fragmentos filmados com razoável rigor, câmera fixa, um humor controlado, apresentando, com essas características, ambientes e personagens, porém com uma noção rarefeita de evolução narrativa. Temos já nesse começo a autonomia das partes sobre a unidade do conjunto. De forma sutil, no entanto. Na segunda metade, centrada na entrevista de televisão, dá-se adeus à sutileza. Bem-vindos ao caos. A atitude da imagem, agora com poucas variações de ângulo, muda completamente. O humor mergulha no insólito, sem medo de perder a força com o esgarçamento e a repetição das piadas, até porque se, realmente dá sinais de cansaço em alguns momentos, o filme logo retoma o fôlego adiante. É um filme de momentos, com a primeira metade empregada como prólogo com três núcleos narrativos, e a segunda como um extenso curta-metragem progressivamente anárquico, de dar câimbra no maxilar. As gargalhadas extraordinárias da platéia mostravam que nenhuma comédia vista nos últimos meses (com exceção, talvez, de As Leis de Família, de Daniel Burman), conseguiu tal adesão de uma sala.


A piada de 12:08 Leste de Bucareste também tem, à sua maneira, um lado sério com a história romena (ainda que sem a seriedade cômica de Nanni Moretti em O Crocodilo). O alvo não é Ceausescu, mas seus adversários. Durante a entrevista-show, desmistifica-se o heroísmo de supostos revolucionários, que, em 22 de dezembro de 1989, horas antes do ditador cair, teriam protestado contra o regime em uma cidadezinha. Mas teriam mesmo protestado contra a presença do tirano ou apenas celebrado sua queda em praça pública? Essa é a investigação feita, ao vivo, pelo apresentador do programa. Sob suspeita, um professor de História (não por acaso), Manescu, conhecido por suas bebedeiras. Ao seu lado, um velho hilário, Piscosi (o impagável Mircea Andreescu). Insinuando um processo osmótico no processo de transição política, que teria acontecido em parte por sua própria corrosão, o filme propõe o acerto de contas com o passado, mas apenas para ridicularizar esse resgate e reivindicar um olhar para a frente, sem falsas mitificações e sem ressentimentos engessadores. Não se trata de apagamento da História, mas de uma libertação em relação a seus fantasmas. Até porque coisas mudaram e outras permaneceram na substituição do comunismo pelo capitalismo (como mostra o filme). Corneliu Porumboiu faz dessa consciência uma tremenda piada.

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