terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

BIRDMAN - 2014

Birdman, 2014
Legendado, Alejandro González Iñarritu
Classificação: Excelente

Formato: mkv
Aúdio: inglês
Legenda: Pt-Br
Duração: 119 minutos
Tamanho: 865 Mb
Servidor: Mega (Parte única)

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Parte única

SINOPSE
No passado, Riggan Thomson (Michael Keaton) fez muito sucesso interpretando o Birdman, um super-herói que se tornou um ícone cultural. Entretanto, desde que se recusou a estrelar o quarto filme com o personagem sua carreira começou a decair. Em busca da fama perdida e também do reconhecimento como ator, ele decide dirigir, roteirizar e estrelar a adaptação de um texto consagrado para a Broadway. Entretanto, em meio aos ensaios com o elenco formado por Mike Shiner (Edward Norton), Lesley (Naomi Watts) e Laura (Andrea Riseborough), Riggan precisa lidar com seu agente Brandon (Zach Galifianakis) e ainda uma estranha voz que insiste em permanecer em sua mente.

Fonte: Adorocinema
The Internet Movie Database: IMDB - NOTA IMDB: 8.2


ANÁLISE

O desejo de sentir-se amado, mesmo adorado, é um elemento integral da profissão de ator – não só como motor do impulso artístico (ou, no mínimo, parte de seu combustível), mas também como quesito essencial para que se sustente na carreira. Afinal, ninguém corre para comprar ingressos para uma peça ou um filme estrelado por um intérprete detestado ou desprezado por todos. Não é à toa que a maior parte dos atores evita se envolver em assuntos polêmicos - não é que não tenham opiniões sobre determinados temas; expressá-las, porém, pode comprometer gravemente seu ganha-pão (e nomes como Sean Penn, Tim Robbins, José de Abreu e Gregório Duvivier certamente perderam legiões de fãs em função de seus posicionamentos políticos, por mais absurdo que isto possa soar).
Esta necessidade de adoração e admiração, aliás, é o que move Riggan Thomson (Keaton), um astro de Hollywood que, depois de fazer sucesso internacional ao interpretar o super-herói Birdman, abandonou o papel há 22 anos (coincidência ou não, exatamente quando Keaton viveu Batman pela última vez). Agora, o ator busca reconhecimento ao dirigir e estrelar uma peça que ele mesmo adaptou a partir de um conto de Raymond Carver e que,  a poucos dias da estreia, vem enfrentando diversos problemas: um integrante do elenco se acidentou e foi substituído pelo talentoso mas difícil Mike Shiner (o talentoso mas difícil Edward Norton); sua filha Sam (Stone), recém-saída de uma clínica de recuperação de dependentes químicos, parece infeliz e próxima de uma recaída; sua namorada e colega de elenco Laura (Riseborough) pode estar grávida; seu agente e amigo Jake (Galifianakis) encontra-se desesperado com o possível fracasso financeiro do espetáculo; e a crítica de teatro do New York Times (Duncan) mostra-se determinada a destruir a empreitada. Para piorar, Thomson é constantemente atormentado pela voz de Birdman, que insiste em provocá-lo com alfinetadas sobre sua inadequação e por ter abandonado uma franquia de sucesso.
Planejado pelo diretor Alejandro González Iñarritu e pelo fabuloso diretor de fotografia Emmanuel Lubezki (Filhos da EsperançaGravidadeA Árvore da Vida) para sugerir um único plano-sequência de quase duas horas de duração, Birdman mantém uma fluidez tão admirável que realmente se torna impossível notar onde ocorrem os cortes, ainda que, pela lógica espacial de cada cena, não seja difícil imaginar (de todo modo, compreendo a não-indicação do projeto na categoria Montagem do Oscar, já que certamente os responsáveis por esta não tiveram muita margem criativa considerando que os cortes foram pensados já na pré-produção). Mas o resultado obtido por Iñarritu e Lubezki fascina, vale apontar, não só pelo feito técnico, mas por não se limitar ao tempo “real” normalmente imposto por planos-sequência – e, assim como em outros trabalhos formidáveis como o brasileiro Ainda Orangotangos e o iraniano Fish & Cat, o filme traz elipses, momentos de alucinação e movimentos de câmera supostamente impossíveis mesmo sem jamais revelar suas transições. Neste sentido, a palavra “cinematografia” (“escrever com o movimento”) ganha peso ainda maior no trabalho realizado pela dupla.
Mas o que realmente torna esta decisão criativa digna de aplausos é o fato de não soar como recurso técnico gratuito para atrair a atenção, já que desempenha funções narrativas claras: além de ressaltar a pressão crescente sobre o protagonista, que não parece ter um único momento de descanso, o plano-sequência evoca uma certa continuidade temporal típica do teatro – e estamos, afinal, assistindo a um filme sobre a montagem de uma peça. Com isso, o longo plano assume um caráter quase metalinguístico, acabando por salientar os comentários que a obra faz sobre si mesma, sobre a indústria cinematográfica e sobre os contrastes percebidos por seus personagens entre Cinema e Teatro: se o primeiro é tomado pelo comércio, pela vulgarização de seus temas e intérpretes e por uma cultura de celebridades, o segundo é supostamente o verdadeiro reduto dos atores íntegros e comprometidos com sua Arte. Desta forma, ao conceder entrevistas para divulgar a peça, Thomson se vê obrigado a negar boatos absurdos (paradoxalmente validando-os simplesmente ao ter que discuti-los) e a responder questões insistentes sobre sua carreira no Cinema, como se sua dedicação ao palco fosse um mero capricho de um artista milionário e mimado. Como se não bastasse, o simples fato de trazer Batman, Hulk e Gwen Stacy em seu elenco já torna Birdman ambíguo por natureza ao utilizar a fama obtida por Keaton, Norton e Stone em projetos “superficiais” (visão do longa, não minha) para atrair interesse sobre si mesmo.
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