Hadewijch, 2009
Bruno Dumont
Formato: AVI Aúdio: Francês
Legenda: Português
Duração: 101 minutos
Tamanho: 491 Mb
Servidor: Zippyshare
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SINOPSE
Céline (Julie Sokolowski), estudante de teologia, adota o nome de Hadewijch, místico do século XIII do Brabant, no norte da França. Chocada com a fé cega e estática da moça, a madre superiora (Brigitte Mayeux-Clerget) a envia para fora do convento, no intuito de que encontre sua vocação no mundo. Ela então volta a ser uma menina comum, filha de um ministro francês. Um dia conhece Yassine (Yassine Salime), africano do subúrbio, que a apresenta ao seu irmão Nassir (Karl Safaradis), muçulmano praticante e professor de religião. O amor de Céline por Deus, assim como sua raiva e seu desejo de entregar-se ao sacrifício, a lançam num caminho perigoso.
Céline (Julie Sokolowski), estudante de teologia, adota o nome de Hadewijch, místico do século XIII do Brabant, no norte da França. Chocada com a fé cega e estática da moça, a madre superiora (Brigitte Mayeux-Clerget) a envia para fora do convento, no intuito de que encontre sua vocação no mundo. Ela então volta a ser uma menina comum, filha de um ministro francês. Um dia conhece Yassine (Yassine Salime), africano do subúrbio, que a apresenta ao seu irmão Nassir (Karl Safaradis), muçulmano praticante e professor de religião. O amor de Céline por Deus, assim como sua raiva e seu desejo de entregar-se ao sacrifício, a lançam num caminho perigoso.
Fonte: Adorocinema
ANÁLISE
As formas do invisível.
por Juliano Gomes
A primeira seqüência de o Pecado de Hadewijch
nos mostra a protagonista Celine sendo expulsa de um convento
por não acatar as regras deste, por conta da sua irrestrita adoração
a Deus. A fé de Celine não suporta doutrinas ou qualquer tipo
de intermediários entre ela e o objeto de sua crença, daí a sua
não adaptação à fé cristã. O cristianismo funda sua fé na imagem
e exerce seu poder através da imagem de Jesus – é preciso adorar
e venerar a imagem, esta presença visível do invisível. O problema
aqui é justamente a não aceitação deste pacto e as conseqüências
mais radicais disto. O filme estabelece um paralelo entre duas
formas religiosas que protagonizaram e protagonizam o maior acontecimento
político e imagético no nosso século: o cristianismo e o islamismo.
Celine vai de um ao outro, na sua busca de uma forma de fé que
possa ser mais direta, que lhe permita agir. A fé pela imagem,
cristã, a qual ela não se adapta, se funda numa certa ausência,
pois a imagem é isso: a presença de uma ausência. A ausência de
imagem no exercício da fé no islã representa uma abertura para
Celine da possibilidade da realização de um contato verdadeiro
com Deus.
Há
na protagonista um desejo ardente que precisa ser sublimado de
alguma maneira, essa sublimação não cabendo no regime católico,
fundado na renúncia do desejo. O desespero desta menina é não
poder dar vazão a esta atração, é que sua paixão se acumule nela
mesma e não possa retornar ao mundo de alguma forma. Ela recebe
a graça de Deus, mas ela precisa dar algo em troca, necessita
responder. A personagem interpretada por Julie Sokolowski é talvez
a primeira de Bruno Dumont que tem consciência plena de seus atos.
Isso torna esse, talvez, O Pecado de Hadewijch o mais abertamente
político de seus filmes – não só pela alegoria clara do estado
das coisas atual na Europa, mas pela associação entre religião,
imagem e responsabilidade individual. Celine deixa a imagem, a
forma da fé católica, indireta, para mergulhar no mundo; para
nele, através do contato direto, do toque, de seus atos materiais,
poder experimentar Deus.
A jornada de Celine é a de perceber, principalmente
através de Yassine, o personagem “terreno” na armação de Dumont,
seu vínculo com o mundo, de observar que suas ações geram reações.
A questão é aprender a olhar para as coisas e perceber a si mesma
na sua relação intrínseca com elas. O maior exemplo disso talvez
seja na bela cena na cozinha com Yassine, onde ela parece sentir
a força quase incontrolável da atração entre dois corpos. Há neste
breve momento o que ela tanto buscava, a possibilidade de reciprocidade,
de resposta, de algo que acontece entre dois, e que tem conseqüências
no mundo visível. Existe ali algo de invisível que é sentido e
partilhado, assim como é a fé, que a une ao irmão de Yassine.
O
laço entre os três personagens principais do filme é justamente
esta possibilidade de partilha através de uma relação comum com
o invisível (seja a fé, o desejo, a música), mas que passa pela
experiência, imanente. O cinema, a imagem, é uma das possibilidades
deste elo, que expressa esta tensão permanente entre o visível
e o invisível. O que Celine faz é buscar estes invisíveis, estes
personagens que vivem na margem, que muitas vezes não têm nome
(como o homem que a “salva” de seu próprio suicídio), e perceber
sua ligação com eles. Celine sai do convento em busca de união,
em busca de estar perto do que gosta, de um amor que se consume.
Ela não podia mais ficar isolada, ela precisava do mundo. A imagem
não pode substituir o mundo. Assim, seu ato extremado, o atentado,
é a consumação de algo planejado e consciente. O que frequentemente
se chama terrorismo nas manchetes de jornal é aqui um ato profundamente
racional: ela decide levar a cabo sua paixão, sob o risco de sucumbir
e morrer. Terrorismo e suicídio, dois dos maiores tabus do Ocidente,
são atos de tomada de responsabilidade aqui.
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Obrigada Laurentino.
ResponderExcluirGostei deste filme.