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sábado, 29 de dezembro de 2012

VÁ E VEJA - 1985

Come And See ou Idi I Smotri
Legendado, Elem Klimov

Classificação: Excelente
IMDB: 8.2 / 10
Servidor: Mega (Parte única)
Duração: 02:15:05
Formato: .AVI
Legenda: Pt-Br

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Parte única



Comentário
Vá e Veja conta a história de um garoto de 15 anos que encontra um velho rifle e se junta ao exército soviético na luta contra a invasão nazista à Bielo-Rússia (hoje, chamada Belarus). 

Que fique aqui registrado que esse não é um filme para os corações fracos, mas sim uma depicção extremamente real dos horrores da batalha, mostrado pelos olhos do garoto. O ideal aqui não é tirar conclusões sobre a narrativa do filme. Todo o significado está na imagem, bem na cara do espectador. A intenção é nos deixar o mais próximo possível da situação, e se sentir tão horrorizado quanto o protagonista. 




"Antes de morrer, em 2003, o cineasta Elem Klimov ao comentar sobre "Vá e Veja" afirmou que seu objetivo não era contar uma história, mas mergulhar nas memórias de infãncia e tentar comunicar à platéia o assombro e a confusão de sentimentos que experimentou, enquanto a família tentava escapar da ofensiva alemã na Bielo-Rússia, em 1941." (blog por que ver)

As imagens chocantes reforçam a ideia, desde às expressões traumatizadas do (tremendo ator Aleksey Kravchenko) garoto Florya, até as explosões e armas reais usadas nas filmagens. Tudo aqui é dez vezes mais intenso e real do que num filme de guerra convencional. Não há efeitos especiais, nem heróis clichês, nem glória. 

Por isso, a única coisa que se exige do espectador é que ele vá e veja.






ARIEL - 1988

Ariel, 1988
Aki Kaurismäki

Formato: AVI
Aúdio: Finlandês
Legenda: Português
Duração: 69 minutos
Tamanho: 691 Mb
Servidor: Zippyshare

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Parte 4

SINOPSE
O filme conta a história de Taisto Kasurinen, um mineiro de carvão finlandês, cujo o pai se suicidou há pouco tempo e que é acusado de um crime que ele não cometeu. Na prisão, ele começa a sonhar em deixar o país e começar uma vida nova. É um ‘road-movie’ dedicado à memória da realidade finlandesa. O desemprego e um relato sobre a vida na prisão fazem parte desse roteiro, que retrata a realidade ocidental com toques de paixão e tristeza.
Ariel tem semelhanças temáticas fortes à obra-prima de Kaurismäki O Homem Sem um Passado em que segue um homem que sofre umas séries de infortúnios que parecem projetar para esmagar o espírito e a esperança dele. Ariel tem menos gravidade que o filme posterior e também é um pouco mais escuro.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

FORA DE SATÃ - 2011

Hors Satan, 2011
Bruno Dumont

Formato: AVI
Aúdio: Francês
Legenda: Português
Duração: 109 minutos
Tamanho: 910 Mb
Servidor: Zippyshare

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Parte 4
Parte 5

SINOPSE
Nas proximidades do Canal da Mancha francês, na costa de Opale, perto de uma aldeia com suas dunas e pântanos, vive um estranho homem que caça, reza e acende fogueiras. Uma moça que mora numa propriedade local toma conta dele e lhe dá de comer. Eles passam o tempo juntos no grande campo vasto de dunas e bosques, a se recolher misteriosamente à beira das lagoas, lá onde ronda o Demônio.


ANÁLISE

Luz e sombras.

por Felipe Furtado 
 
Com algumas poucas exceções, Fora de Satã se passa todo em locações externas, com planos centrados no mesmo espaço descampado, entre areia e a vegetação. É um espaço fora do tempo, ao lado de uma vila que sugere somente as margens de uma civilização representada exclusivamente pela autoridade de um par de policiais. Um espaço em constante conflito na sua geografia cuidadosamente selecionada e suas alternações entre o verde, os caminhos de areia que apontam a passagem do homem por ali e as poucas ocasionais construções. É o cenário perfeito para o último drama de Bruno Dumont. Pois Fora de Satã é um filme de horror teológico, drama sobre o duelo entre luz e trevas cuidadosamente trabalhando plano a plano por Dumont. É um embate que se dá na imagem, a cada cuidadoso recorte de luz e cada sutil movimento desempenhado por seus atores.  

Fora de Satã existe mesmo num limite entre o drama de idéias que tanto agrada a Dumont e um filme de horror muito peculiar. A grande influencia de Georges Bernanos é visível para alcançar esta combinação, e nisto é notável, quando pensamos a obra de Dumont como um todo, apontar que o filme flerta mais abertamente com a versão de Maurice Pialat para Sob o Sol de Satã do que com as adaptações que Robert Bresson fizera do escritor francês. O filme todo se resolve na superfície do plano. É Bruno Dumont retomando um pouco do que faz melhor, inclusive num filme que se assemelha muito mais a A Vida de Jesus e A Humanidade do que a seus trabalhos mais recentes. Dumont não é um materialista tão radical quanto Pialat, mas Fora de Satã também procura se ancorar num mundo concreto. Não à toa, os milagres, exorcismos e outros eventos sobrenaturais da narrativa são essencialmente físicos, desempenhados pelos atores de forma muito similar a das cenas de explosão de violência. Fora de Satã conta inclusive com uma versão muito própria da caminhada com o demônio de Sob o Sol de Satã - que, reimaginada por um viés que só seria possível num filme de Bruno Dumont, se conclui com algo que pode ser descrito como um dos mais improváveis exorcismos de todo o cinema. 

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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

TABU - 2012

Tabu, 2012
Miguel Gomes

Formato: AVI
Aúdio: Português (Portugal)
Legenda: Português
Duração: 100 minutos
Tamanho: 867 Mb
Servidor: Zippyshare

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Parte 4
Parte 5

SINOPSE
Uma idosa temperamental, a sua empregada cabo-verdiana e uma vizinha dedicada a causas sociais partilham o andar num prédio em Lisboa. Quando a primeira morre, as outras duas passam a conhecer um episódio do seu passado: uma história de amor e crime passada numa África de filmes de aventura.
Fonte: Cineplayers

IMDB
TRAILER
 
 ANÁLISE

Aurora.

por Filipe Furtado

Tabu contém uma das grandes sequencias de abertura do cinema recente: o próprio cineasta Miguel Gomes narra a anedota sobre um explorador europeu na África que, após perder a esposa, desaparece na floresta, é consumido por um crocodilo e numa antropofagia dos sentimentos se transmuta nele para a partir dali olhar. Há algo de sedutor nas imagens com as quais Miguel Gomes conta sua pequena história (versão em miniatura de muito do que virá a seguir), na maneira como Tabu encontra o equilíbrio entre o sentimento de descoberta ali contido e um profundo lamento romântico presente em seu espírito. Tabu é uma meditação sobre nostalgia e, como todos os grandes filmes sobre a História, é uma obra sobre o hoje.

Diante de Tabu, difícil não pensar na introdução do “A Era dos Extremos”, de Eric Hobsbawn, e sua afirmativa, já absolutamente datada no dia da publicação do livro, de que o século XX mergulhou num extremo de barbarismo sem igual na história da humanidade. É uma afirmação que se revelava datada não pela experiência das duas guerras mundiais que as informa, mas porque trai, por parte do grande historiador inglês, seu inevitável eurocentrismo, afinal o que exatamente torna o barbarismo das duas guerras da primeira metade do século mais intenso do que o de todas as guerras coloniais dos séculos anteriores que ajudaram a sustentar os mesmos impérios europeus que ruíram no pós-II Guerra? Tabu é essencialmente um filme sobre a impossibilidade hoje deste olhar eurocêntrico. Não é por acidente que seu casal de protagonistas, Aurora e Gian Luca, pertençam à mesma geração do historiador inglês, a última para o qual este olhar ainda chegava de forma natural (e não efeito dos delírios nostálgicos de setores da extrema direita do continente), para qual o paraíso europeu ainda era algo com o qual se podia sonhar.

O nome Tabu inevitavelmente traz associações claras à própria experiência de F.W. Murnau com sua fita romântica colonial, mas é bom saber que originalmente Miguel Gomes pretendia dar a Tabu o nome de sua protagonista Aurora (a opção final foi decorrência de Cristi Puiu retomar o nome Aurora primeiro), de conotação igualmente próxima ao cineasta alemão, mas que pressupõe outra aventura romântica e outra forma de deslocamento para a colônia – não para a obscura Polinésia, mas a desenvolvida America e com ela uma mudança radical nas relações de poder entre o cineasta e o mundo que desvenda. 

O cinema é absolutamente central a tudo que torna Tabu o filme que ele é. Poucas vezes nos encontramos diante de um filme no qual a cinefilia informa tão diretamente seus méritos. É só através do cinema que este olhar pode ser recuperado e devidamente lamentado por uma última vez. Todo o filme se constrói sobre a arte do filtro narrativo, e se há algo espantoso no trabalho de Miguel Gomes aqui é justamente a maneira como ele pega o que poderia facilmente ser um empecilho e usa-o para amplificar a força do seu filme. Tabu é um filme sobre projeções (as de Pilar, das duas Auroras, de Santa, etc.) na qual o cinema assume o seu grande papel de mediador da história. Somente esta arte tão central ao século XX pode dar conta deste funeral, pode permitir que este olhar se projetasse uma última vez. Tabu encontra o poder do melodrama por meio de todas as técnicas de distanciamento possíveis para a narrativa cinematográfica. Nisto, Miguel Gomes não deixa de retomar o caminho de Murnau, que alcançava similares resultados lançando mão de todo o peso do maquinário hollywoodiano.

Aqui, se está sempre com as emoções devidamente afloradas. Não à toa, todos os personagens se põem a chorar o tempo todo. Ninguém dissimula no mundo de Tabu; a irritação de Aurora com Santa e vice-versa, a paixão do pintor por Pilar, a irritação dela ao saber que não receberá sua turista romena, o amor entre Aurora e Gian Luca e a reprovação de seu amigo Mário... tudo em Tabu, mesmo o que permanece não dito, é sempre claro e direto, se resolve através de gestos e ações. A certa altura, Pilar vai ao cinema com seu amigo pintor e Gomes a filma emocionada, a ouvir uma versão em castelhano para “Be My Baby” das Ronettes – mesma versão que veremos a banda de Mário e Gian Luca tocar na segunda metade do filme. Podemos dizer que Pilar já vira o “Paraíso” de Tabu, mas é melhor dizer que o cinema a preparou para experienciar o “Paraíso” de Tabu.  

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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

LUZ DE INVERNO - 1963

Nattvardsgästerna, 1963
Legendado, Ingmar Bergman
Classificação: Excelente

Formato: AVI
Áudio: sueco
Legendas: Pt-Br
Duração: 81 minutos
Tamanho: 800 MB
Servidor: Mega (Parte única)

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Parte única

SINOPSE
O pescador Jonas Persson (Max von Sydowfica perturbado ao ler nos jornais que a China pretende usar a bomba atômica e decide ir buscar conforto na igreja. O pastor Tomas Ericsson (Gunnar Björnstrand), no entanto, não consegue ajudá-lo, já que passa por uma severa crise de fé e nem mesmo o amor da professora Märta Lundberg (Ingrid Thulin) consegue livrá-lo desse tormento.

Fonte: Adorocinema
The internet movie database: IMDB - NOTA IMDB: 8.1

por Demetrius Caesar


Um pastor cristão, que atua em uma longínqua, diminuta e friorenta vila sueca, olha para Jesus Cristo pregado na cruz e comenta: “Que imagem ridícula!”. Trata-se de Luz de Inverno, de 1962, segunda e melhor parte da “Trilogia do silêncio”, que Ingmar Bergman fez tendo como tema o silêncio de Deus. O filme tem todas as características do cinema do diretor: longo planos focado no rosto dos atores, diálogos densos, atuações lancinantes e discussões existenciais. É de lascar.
Luz de inverno fala da perda da fé. Não só os fiéis sofrem com as hesitações do pároco descrente: sua amante também é massacrada com a desilusão da autoridade religiosa local, homem distante, incapaz de amar. Ela diz ao amante: “Nunca acreditei na sua fé, sempre a achei neurótica e obscurantista”. O pastor se culpa pelo suicídio de um humilde pescador, dilacerado pelo medo da guerra nuclear então em curso no mundo.

“Acreditar que Deus não existe faz a vida ter sentido. É um alívio! Dor e morte tornam-se coisas naturais”, diz o pastor ao recolher o corpo do ex-fiel que acabara de dor um tiro no ouvido. O pastor começou a se questionar depois da morte da mulher, a quem amava com força. Julga nunca mais encontrar alguém à altura.

Impecáveis, Gunnar Bjornstrand e a belíssima Ingrid Thulin fazem o casal de maneira soberba. Bergman baseou-se no clássico Diário de um Pároco de Aldeia, de Robert Bresson, para compor seu filme de apenas 80 minutos, com igual rigor cinematográfico do cineasta francês. Ambientou-o na paranóia que começou a crescer com a iminência da guerra nuclear. Deus, mais uma vez, parecia ausente frente à desgraça.

Cansado, sem ter o que falar aos fiéis, em especial em momentos de desespero - quando eles mais necessitam de ajuda –, o pastor vê sua igreja esvaziar até que, no final do filme, reza uma missa para ninguém, talvez porque reencontrou a fé ao conversar minutos antes com um deficiente físico que lhe disse ter Jesus Cristo sofrido mesmo foi de solidão, não por causa dos castigos físicos. Ou talvez tenho celebrado a missa só para si mesmo, para tentar se convencer, um ato reflexo. É impossível saber.

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FEBRE DO RATO - 2012

Febre do Rato, 2011
Claúdio Assis
Formato: AVI
Aúdio: Português
Legendas: -
Duração: 105 minutos
Tamanho: 875 Mb
Servidor: Zippyshare

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SINOPSE
Zizo é um inconformado e anarquista responsável pela publicação do fanzine que dá nome ao filme. Zizo vive isolado em seu mundo particular até conhecer Eneida. Ela se transforma em sua consciência contemporânea e periférica, promovendo grandes transformações em sua vida.
Fonte: Cineplayers

IMDB
TRAILER

ANÁLISE

Você não põe a coleira em uma aberração.  

por Bernardo D.I. Brum

O terceiro filme de Cláudio Assis - sucedendo os tão aclamados quanto criticados Amarelo Manga (idem, 2002) e Baixio das Bestas (idem, 2007) - mostra que o diretor pernambucano não arrefeceu nem um pouco em seu radicalismo formal nem em suas temáticas sempre controversas: as histórias sobre indivíduos da classe baixa da sociedade pernambucana retratam um universo todo próprio e característico, onde assuntos como sexo, desejo, repressão e exploração são explorados constantemente sob uma ótica sempre distante e desconfortável, nunca cômoda ou resignada.

Febre do Rato abre com o ponto de vista de um barco se aproximando do litoral recifense. Vemos a cidade surgindo aos poucos, enquanto ouvimos uma voz declamando poesias. A imagem, que se assemelha com a primeira imagem registrada no Brasil – o ponto de vista de um barco chegando na Baía de Guanabara, filmado por Afonso Segreto – cumpre a mesma função que o registro centenário: irá, em preto e branco, descortinar um mundo muitas vezes ignorado e desconhecido, e a voz declamadora logo se revelará ser de Zizo, um poeta que edita um jornal independente homônimo ao filme, feito à mão, na raça e na coragem pelo próprio através da sua máquina de imprensa e sua fotocopiadora que distribui aos berros e protestos pela sua cidade.

Com Zizo compartilham espaço outros personagens de seu círculo social, pessoas que bebem, fazem sexo, traem, brigam e novamente se unem em uma espécie de união miserável em contraponto à angústia solitária, engolida em seco, de Amarelo Manga ou o desfile de perversões e personagens disfuncionais de Baixio das Bestas; para um artista que aposta no que incomoda, Febre do Rato funciona não apenas como filme, mas também como afirmação de estilo: como nas suas ácidas e críticas entrevistas, seu filme também é uma antítese de um cinema limpo, educado e cartesiano demais; seu grande espaço tempo diegético, a pouca presença de ação dramática, os diálogos com o ritmo de uma conversa cotidiana são racionalmente distante da pathos do cinema tradicional para justamente aproximar espectador do íntimo dos personagens: a nudez, a masturbação, o sexo, o sono, a ressaca pedem mais por instante e menos por pose. 

A fotografia de Walter Carvalho, como sempre acontece em tantos outros trabalhos seus, constrói um olhar carnal sobre os personagens enfocados, revelando sua sensualidade, sua feiúra, seus pequenos instantes, enfim; sua liberdade enquanto ser humano, quando ninguém mais está olhando.

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NOSFERATU: O VAMPIRO DA NOITE - 1979

Nosferatu: Phantom der Nacht, 1979
Legendado, Werner Herzog
Classificação: Excelente 

Formato: AVI 
Áudio: alemão
Legendas: Pt-Br
Duração: 107 minutos
Tamanho: 845 MB
Servidor: Mega (Parte única)

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Parte única

SINOPSE
Baseado no livro Drácula, de Bram Stoker, Nosferatu conta a jornada de Jonathan Harker (Bruno Ganz) pelo reino de horror do Conde Drácula (Klaus Kinski, em magnífica atuação), um maligno vampiro obcecado por sua esposa, a bela Lucy (Isabelle Adjani). Refilmagem do clássico alemão Nosferatu, de Murnau, de 1922.

Fonte: Cineplayers
The internet movie database: IMDB - NOTA IMDB: 7.5



ANÁLISE

Nosferatu, O Vampiro da Noite começa com planos de múmias, aos quais se sucede vôo, em câmera lenta, de morcego. A seguir, tem-se o acordar assustado de Lucy Harker (Isabelle Adjani), socorrida pelo marido, Jonathan (Bruno Ganz), o qual lhe diz que tudo não passou de pesadelo. Nesta adaptação de Bram Stoker, que se filia à imagética criada por F. W. Murnau para o clássicoNosferatu, Sinfonia do Horror (Nosferatu, eine Symphonie des Grauens, 1922), Werner Herzog se posiciona justamente nos limites entre o sonho e a realidade, onde o desespero e a morte são elementos vitais para tratar, por um lado, da impotência e da insatisfação sexual de Lucy e, por outro, da falta de amor que origina o tormento e a solidão de Conde Drácula (Klaus Kinski).

No documentário A Noite dos Cineastas (Die Nacht der Regisseure, 1995, de Edgar Reitz), feito para a BBC em comemoração ao centenário da sétima arte, Werner Herzog - expoente, com Rainer Werner Fassbinder, Alexander Kluge, Win Wenders, Volker Schlondörff, Margarethe von Trotta e Hans-Jürgen Syberberg do Novo Cinema Alemão - explicita a admiração que sente pelo clássico de F. W. Murnau, bem como o desejo de atualiza-lo a partir das impressões deixadas pelo original em sua própria sensibilidade. A comparação entre as versões, porém, apresenta mais diferenças do que semelhanças, pois embora Herzog reproduza as caracterizações do trio protagonista - expressionista para Drácula, naturalista para Jonathan e etérea para Lucy (no filme mudo, chamados respectivamente de Orlock, Hutter e Ellen, devido a problemas com direitos autorais) - , da mesma forma que filma em locações, com cenários reais (e o primeiro Nosferatu alinha-se antes ao kammerspiel, cinema realista, visto em A Última Gargalhada, do que ao expressionismo de O Gabinete do Dr. Caligari, por exemplo), tanto a temática que propõe quanto a narrativa que a desenvolve são bastante diversas das utilizadas por Murnau.

Assim, se Murnau opta pela multiplicidade de narradores - de início, narração em terceira pessoa, que depois se revela de primeira pessoa, as quais se somam as cartas escritas por Hutter e o diário de bordo que conta o ocorrido no navio-fantasma - , Herzog os concentra em Lucy: não apenas os planos que abrem Nosferatu, O Vampiro da Noite remetem ao pesadelo da personagem, como também a primeira aparição de Drácula (e a palavra "aparição" é precisa, visto que Klaus Kinski sempre surge, furtivamente, das sombras e da escuridão, iluminado por trás, com a silhueta em destaque) e a mórbida e surreal festa, em meio a ratos e caixões, na praça da cidade, desolada e decadente, tomada pela peste apontam para os delírios de Lucy, para as perturbações mentais que, já mostradas durante o filme, são complementadas pelo diretor com os cortes que trazem as seqüências de volta ao quarto da protagonista, a qual desperta do sono. Se Murnau fala do conflito entre natureza e cultura, com a figura do vampiro enquanto força sexual selvagem capaz de desestruturar a sociedade, Herzog adapta este conceito ao dos loucos sonhadores e revoltados que permeia sua filmografia: o capitão espanhol que pretende encontrar Eldorado e edificar, no meio da floresta amazônica, novo império por intermédio do incesto com a filha em Aguirre, A Cólera dos Deuses (Aguirre, der Zorn Gottes, 1972); o estrangeiro que deseja construir teatro na selva, mesmo que precise transportar seu navio através de montanhas em Fitzcarraldo (Fitzcarraldo, 1982); o soldado que, transtornado, explode o arsenal o qual deveria proteger em Sinais da Vida (Lebenszeichen, 1968).


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