Casa de Lava, o segundo filme de Pedro Costa, conta a estória desses dois percursos improváveis, quando não impossíveis: um que vai de Cabo Verde - terra avessa à toda vida, sede do Tarrafal e do "campo da morte lenta" para os presos políticos do Estado Novo - a Portugal; o outro, que vai de Portugal a essa ilha de terra infértil para onde "ninguém volta". Enquanto Leão preserva no sono de sua semi-vida a razão de seu retorno, Mariana se vê obrigada a criar uma razão pra si, ou várias: devolver Leão a sua família, dar assistência aos doentes, convencer os homens a ficarem em sua terra, desvendar o segredo de uma mulher branca em meio aos negros, despertar o sexo ou o amor numa terra feita de cinzas. Seu percurso faz colidir os temas mais abertamente políticos aos mais íntimos, a ponto destes quase arrastarem-na para uma dimensão inesperada - tomada de consciência que, segundo uma velha lição do cinema moderno, pode ser entendida menos pelo despertar da "consciência em si", do que pela dissolução da consciência no mundo, pela elevação do ser que precipita subitamente a aparição do amor (Viagem à Itália) ou da morte (Stromboli). Em Casa de Lava, Mariana está sujeita a esses dois riscos (a esses dois desejos).
8.4 de 10 | - - 55% | 1h 50min | Trailer |
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