Politist, Adjectiv, 2009
Legendado, Corneliu Porumboiu
Classificação: Excelente
Formato: AVI
Áudio: romeno
Legendas: Pt-Br
Duração: 115 minutos
Tamanho: 1,55 GB
Servidor: Mega (Parte única)
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Parte única
SINOPSE
Cristi (Dragos Bucur) é um policial que flagra um jovem vendendo haxixe a um colega de escola. Ele se recusa a prendê-lo, apesar do ato ser punível pela lei local. Cristi acredita que a lei irá mudar em breve e não deseja condenar o futuro do garoto com a prisão. Só que seus superiores não pensam da mesma forma.
Fonte: Adorocinema
Parte única
SINOPSE
Cristi (Dragos Bucur) é um policial que flagra um jovem vendendo haxixe a um colega de escola. Ele se recusa a prendê-lo, apesar do ato ser punível pela lei local. Cristi acredita que a lei irá mudar em breve e não deseja condenar o futuro do garoto com a prisão. Só que seus superiores não pensam da mesma forma.
Fonte: Adorocinema
The internet movie database: IMDB - NOTA IMDB: 7.1
ANÁLISE
No clímax de Polícia, Adjetivo, Cristi, o protagonista da história, abre um dicionário romeno para entender o significado da palavra “policial”. Este momento, que dá título ao filme, também ajuda a entender seus significados internos e externos. Podemos, por exemplo, compreender que o segundo longa de Corneliu Porumboiu é, partindo das definições abordadas por Cristi...
1 – um romance, ou, naturalmente, um filme policial. Neste caso específico, o adjetivo estaria ligado não ao que acontece internamente à trama ou ao personagem, mas ao próprio gênero que o filme se propõe a dissecar. Em outras palavras, poderíamos afirmar que Polícia, Adjetivo é o anti-filme policial. Temos aí, como é de se esperar, uma investigação, que perpassa toda a trama. Temos, também, um protagonista em crise, tentando solucionar o caso, e temos, por fim, uma corrida – ainda que muito vagarosa – contra o tempo. Todos os elementos, por sinal, são fundamentais ao funcionamento do filme. Mas em Polícia, Adjetivo nada, absolutamente nada, acontece, e nada, absolutamente nada, poderá acontecer.
Cristi tem de prender um usuário de haxixe para satisfazer a força policial, que precisa de um flagrante. O jovem será condenado por sete anos (ou três anos e meio, no máximo, como seus chefes não se cansam de repetir), por uma lei já ultrapassada na União Européia, e o policial não quer esse peso em sua consciência. Acompanhamos, passo a passo, o dia de trabalho do investigador, até que seja dada a ordem de flagrante e não haja mais escapatória. Cristi, nos dias que se seguem, tentará achar algo que prove a inocência do rapaz (ou, pelo menos, a culpa maior de alguém superior). O grande problema é que a lei, ainda que errada e quase obsoleta, é maior e mais forte do que a consciência do rapaz. O que nos leva a definição número...
2 – o policial não como substantivo (o agente), mas como adjetivo (a parte do todo). Polícia, Adjetivo é um filme policial que se funda na idéia de que o grande vilão, desde o princípio, é a lei e a ordem, escrita aqui propositalmente como uma única expressão. Ela paira acima de Cristi, e é ela que Cristi tentará derrotar. Mas o grande absurdo – e o que faz de sua busca, desde o início, algo infrutífero – é que Cristi, como policial, representa exatamente essa expressão. É daí que o filme parte, e é isso que o filme seguirá, inelutavelmente, até o fim.
Ao contrário dos heróis de Kafka (e a relação aqui está longe de ser uma mera coincidência), que normalmente se viam como vítimas da burocracia do mundo, Cristi é um pequeno, mas fundamental, mantenedor dessa burocracia. O absurdokafkaniano que surge desse embate – as leis, regras e burocracia versus a liberdade e a expressão individual do homem – mostra-se, por causa disso, incapaz de acontecer aqui. Assim, em Polícia, Adjetivo o absurdo só pode existir de uma única forma: se for exatamente igual ao mais absoluto cotidiano.
Por isso,Polícia, Adjetivo, é um anti-filme policial, um anti-romance kafkaniano, mas, assim como o primeiro longa do diretor (o interessante A Leste de Bucareste), uma comédia corrosiva, nascida exatamente dessa impossibilidade fundadora. Quando o mais absoluto cotidiano transforma-se, também, no mais cruel absurdo (pensemos no som do computador da secretária ditando a toada da espera de Cristi; nos comentários repetidos por diferentes pessoas; ou, mais ainda, nas discussões conceituais sobre palavras, frases e metáforas), apenas as risadas sobrevivem.
3 –Polícia, Adjetivo é um filme-dicionário, no qual a estrutura geral serve, sempre, a conceitos específicos. Porumboiu, por isso, filma da única forma possível dentro do arcabouço tramado por ele: com uma câmera praticamente imóvel, seguindo Cristi quando ele anda, parando quando ele pára, distante de qualquer sentimentalismo (e mesmo, por assim dizer, sentimento) ou aproximação de personagens. Porumboiu filma, e estende os planos, como se a “lei e a ordem” passassem, ininterruptamente, maiores do que tudo relacionado ao próprio homem.
Esse artifício – tão comum no cinema contemporâneo – de estender os planos e fixar a câmera a fim de captar a matéria do mundo não poderia, no entanto, encontrar eco mais contrário no longa de Porumboiu. A câmera, aqui, tudo filma, mas nada vê. Poderíamos afirmar, até, que o papel da câmera é esperar, sempre esperar o que não irá acontecer (a revelação, o salto para o desconhecido, o desencontro entre o policial e a lei). Não há atenção a detalhes, não há força dramática, a imagem quase não tem importância. Reclamar a inexistência de uma matéria dramática, de uma força cinematográfica, de uma predominância dos conceitos em relação ao que existe na cena é não perceber que, emPolícia, Adjetivo, os conceitos são exatamente o que existe na cena.
Talvez, por isso, as imagens mais marcantes e emblemáticas do filme sejam os relatórios entregues por Cristi após cada dia de trabalho. Neles, se resume – e se repete – tudo que acabamos de assistir.
4 –Polícia, Adjetivo é um filme-dicionário, no qual as palavras têm papel fundamental. O número de discussões sobre modificações ortográficas, erros gramaticais, origem vocabular, funções da metáfora é quase tão grande quanto a rotina de trabalho de Cristi. Não há dúvida de que, fora Porumboiu ser um grande encenador do discurso (como se mostrava ainda mais presente em seu filme anterior), o realizador atenta para o próprio papel das palavras (ou seria da linguagem?) neste conjunto de leis, ordens e definições que compõem a burocracia. Novamente, entramos no território de Kafka, agora sem precisarmos de antíteses: a palavra existe, acima de tudo, como uma prisão. Por isso, o homem que, no filme, mais a domina (ou, de outro modo, a modula), tem o poder de impor a lei e a ordem e se aproxima, de forma quase cômica, da figura de um vilão caricatural. Ao mesmo tempo, um pequeno erro gramatical de Cristi em seu relatório mostra a fraqueza de sua posição e, por que não, a impossibilidade de sua busca.
Aqui, fica claro: o adjetivo da profissão marca, acima de tudo, a idéia de sua sujeição à estrutura geral das palavras (ou seria da linguagem?). Talvez, por isso, as imagens mais marcantes e emblemáticas do filme sejam os próprios relatórios entregues por Cristi após cada dia de trabalho. Neles, se resume – e se repete – tudo que acabamos de assistir.
5 –Polícia, Adjetivo tem uma maturidade rara para um segundo longa-metragem. Mais do que isso, parece amplificar o método e as questões de Porumboiu presentes em seu filme anterior (tratar de um evento específico através de um humor bastante particular, com a intenção de criticar o atraso da sociedade romena pós-Ceausescu) a um caminho talvez sem volta, fruto da relação tão arraigada com os conceitos que construiu. Se o terceiro filme, portanto, é uma enorme incógnita, celebremos a presença do segundo, que coloca Porumboiu entre os novos – e relevantes – autores do cinema mundial. Possivelmente, o único romeno de uma nova e celebrada geração que, hoje, merece essa distinção.
1 – um romance, ou, naturalmente, um filme policial. Neste caso específico, o adjetivo estaria ligado não ao que acontece internamente à trama ou ao personagem, mas ao próprio gênero que o filme se propõe a dissecar. Em outras palavras, poderíamos afirmar que Polícia, Adjetivo é o anti-filme policial. Temos aí, como é de se esperar, uma investigação, que perpassa toda a trama. Temos, também, um protagonista em crise, tentando solucionar o caso, e temos, por fim, uma corrida – ainda que muito vagarosa – contra o tempo. Todos os elementos, por sinal, são fundamentais ao funcionamento do filme. Mas em Polícia, Adjetivo nada, absolutamente nada, acontece, e nada, absolutamente nada, poderá acontecer.
Cristi tem de prender um usuário de haxixe para satisfazer a força policial, que precisa de um flagrante. O jovem será condenado por sete anos (ou três anos e meio, no máximo, como seus chefes não se cansam de repetir), por uma lei já ultrapassada na União Européia, e o policial não quer esse peso em sua consciência. Acompanhamos, passo a passo, o dia de trabalho do investigador, até que seja dada a ordem de flagrante e não haja mais escapatória. Cristi, nos dias que se seguem, tentará achar algo que prove a inocência do rapaz (ou, pelo menos, a culpa maior de alguém superior). O grande problema é que a lei, ainda que errada e quase obsoleta, é maior e mais forte do que a consciência do rapaz. O que nos leva a definição número...
2 – o policial não como substantivo (o agente), mas como adjetivo (a parte do todo). Polícia, Adjetivo é um filme policial que se funda na idéia de que o grande vilão, desde o princípio, é a lei e a ordem, escrita aqui propositalmente como uma única expressão. Ela paira acima de Cristi, e é ela que Cristi tentará derrotar. Mas o grande absurdo – e o que faz de sua busca, desde o início, algo infrutífero – é que Cristi, como policial, representa exatamente essa expressão. É daí que o filme parte, e é isso que o filme seguirá, inelutavelmente, até o fim.
Ao contrário dos heróis de Kafka (e a relação aqui está longe de ser uma mera coincidência), que normalmente se viam como vítimas da burocracia do mundo, Cristi é um pequeno, mas fundamental, mantenedor dessa burocracia. O absurdokafkaniano que surge desse embate – as leis, regras e burocracia versus a liberdade e a expressão individual do homem – mostra-se, por causa disso, incapaz de acontecer aqui. Assim, em Polícia, Adjetivo o absurdo só pode existir de uma única forma: se for exatamente igual ao mais absoluto cotidiano.
Por isso,Polícia, Adjetivo, é um anti-filme policial, um anti-romance kafkaniano, mas, assim como o primeiro longa do diretor (o interessante A Leste de Bucareste), uma comédia corrosiva, nascida exatamente dessa impossibilidade fundadora. Quando o mais absoluto cotidiano transforma-se, também, no mais cruel absurdo (pensemos no som do computador da secretária ditando a toada da espera de Cristi; nos comentários repetidos por diferentes pessoas; ou, mais ainda, nas discussões conceituais sobre palavras, frases e metáforas), apenas as risadas sobrevivem.
3 –Polícia, Adjetivo é um filme-dicionário, no qual a estrutura geral serve, sempre, a conceitos específicos. Porumboiu, por isso, filma da única forma possível dentro do arcabouço tramado por ele: com uma câmera praticamente imóvel, seguindo Cristi quando ele anda, parando quando ele pára, distante de qualquer sentimentalismo (e mesmo, por assim dizer, sentimento) ou aproximação de personagens. Porumboiu filma, e estende os planos, como se a “lei e a ordem” passassem, ininterruptamente, maiores do que tudo relacionado ao próprio homem.
Esse artifício – tão comum no cinema contemporâneo – de estender os planos e fixar a câmera a fim de captar a matéria do mundo não poderia, no entanto, encontrar eco mais contrário no longa de Porumboiu. A câmera, aqui, tudo filma, mas nada vê. Poderíamos afirmar, até, que o papel da câmera é esperar, sempre esperar o que não irá acontecer (a revelação, o salto para o desconhecido, o desencontro entre o policial e a lei). Não há atenção a detalhes, não há força dramática, a imagem quase não tem importância. Reclamar a inexistência de uma matéria dramática, de uma força cinematográfica, de uma predominância dos conceitos em relação ao que existe na cena é não perceber que, emPolícia, Adjetivo, os conceitos são exatamente o que existe na cena.
Talvez, por isso, as imagens mais marcantes e emblemáticas do filme sejam os relatórios entregues por Cristi após cada dia de trabalho. Neles, se resume – e se repete – tudo que acabamos de assistir.
4 –Polícia, Adjetivo é um filme-dicionário, no qual as palavras têm papel fundamental. O número de discussões sobre modificações ortográficas, erros gramaticais, origem vocabular, funções da metáfora é quase tão grande quanto a rotina de trabalho de Cristi. Não há dúvida de que, fora Porumboiu ser um grande encenador do discurso (como se mostrava ainda mais presente em seu filme anterior), o realizador atenta para o próprio papel das palavras (ou seria da linguagem?) neste conjunto de leis, ordens e definições que compõem a burocracia. Novamente, entramos no território de Kafka, agora sem precisarmos de antíteses: a palavra existe, acima de tudo, como uma prisão. Por isso, o homem que, no filme, mais a domina (ou, de outro modo, a modula), tem o poder de impor a lei e a ordem e se aproxima, de forma quase cômica, da figura de um vilão caricatural. Ao mesmo tempo, um pequeno erro gramatical de Cristi em seu relatório mostra a fraqueza de sua posição e, por que não, a impossibilidade de sua busca.
Aqui, fica claro: o adjetivo da profissão marca, acima de tudo, a idéia de sua sujeição à estrutura geral das palavras (ou seria da linguagem?). Talvez, por isso, as imagens mais marcantes e emblemáticas do filme sejam os próprios relatórios entregues por Cristi após cada dia de trabalho. Neles, se resume – e se repete – tudo que acabamos de assistir.
5 –Polícia, Adjetivo tem uma maturidade rara para um segundo longa-metragem. Mais do que isso, parece amplificar o método e as questões de Porumboiu presentes em seu filme anterior (tratar de um evento específico através de um humor bastante particular, com a intenção de criticar o atraso da sociedade romena pós-Ceausescu) a um caminho talvez sem volta, fruto da relação tão arraigada com os conceitos que construiu. Se o terceiro filme, portanto, é uma enorme incógnita, celebremos a presença do segundo, que coloca Porumboiu entre os novos – e relevantes – autores do cinema mundial. Possivelmente, o único romeno de uma nova e celebrada geração que, hoje, merece essa distinção.
Análise retirada do site Contracampo
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