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sábado, 12 de abril de 2014

O CAPOTE - 1959

Shinel, Legendado, 1959, Aleksey Batalov.

Classificação: Excelente
Formato: AVI ( Xvid 640x480)
Áudio: Russo
Legendas: Português (BR)
Duração: 75 Min.
Tamanho: 1.09 Gb.
Servidor: 1Fichier
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Parte 1
Parte 2
Parte 3

Sinopse: Escrita em 1842, é considerada a obra-prima da literatura russa. É a história de um pobre funcionário público que, a grandes custos, consegue comprar um novo capote e é roubado no mesmo dia em que o inaugura. Segue-se então uma via crúcis pela burocracia russa. Ao invés do capote, ele consegue apenas uma grande bronca de um alto funcionário. Isso, unido a uma gripe que o pega por estar sem capote, e, portanto, desprotegido do terrível frio de São Petersburgo, leva-o à morte.
Fonte: Cineplayers
The Internet Movies Database: IMDB - Nota Imdb 7.3


Crítica:

O Capote de Aleksey Batalov

Aleksey Batalov dirigiu apenas três filmes, embora tenha sido um consagrado ator de cinema. Na verdade, tornou-se internacionalmente conhecido ao representar o Boris de Quando Voam as Cegonhas (Letyat zhuravl, URSS, 1957), filme que ganhou o mundo realizado pelo a partir dali famoso Mikhail Kalatozov. Sua fama atingiria o estrelado pleno quando interpretou o Gosha de , Moscou não Acredita em Lágrimas (Moskva slezam ne verit, URSS, 1980), de Vladimir Menshov, um filme síntese de certa tendência do cinema soviético do final dos anos 1970 e início dos anos 1980. Ele, portanto, já era famoso quando dirigiu Capote (Shinel, URSS, 1959), seu primeiro filme e uma adaptação do conto homônimo de Gogol.
O texto de Gogol não é necessariamente simples. Diz a lenda que Dostoiévski teria afirmado que a literatura russa do século XIX descenderia diretamente dele, primeira das obras a tematizar o mundo social russo e o inferno burocrático em sua plenitude e bom humor. O próprio Sergey Eisenstein montara aulas de cinema a partir de rascunhos de um roteiro de adaptação do texto, embora seja desconfiado que assim como os grandes escritores russos do século XIX, Eisenstein não seria capaz de reproduzir um dos grandes traços originais de Gogol: seu humor inventivo que transforma a tragédia numa ironia. Neste sentido, parece-me que Batalov conseguiu fazer um grande filme, o qual respeitou a maioria dos pontos do enredo original, e, principalmente, a “atmosfera” ‘gogoliana’. A fita e sua direção de cena beneficiou-se do fato de que o diretor era um ator de teatro importante e experiente, já consagrado no trabalho com Kalatozov, e, trabalhando no melhor dos cenários: o degelo da era Kruschev.
Com as denúncia de Nikita Kruschev, a partir de 1955 a URSS viveria um momento de eferverscência cultural conhecido como “degelo” no qual muita produção artística da literária à cinematográfica tornou-se possível. Embora no Brasil tenhamos conhecido apenas o lado místico e poético dos movimentos ali inaugurados, cuja figura mais conhecida é Andrey Tarkovsky, na verdade, fora uma ampla produção que incluía as adaptações literárias, as quais apenas agora estão sendo divulgadas por estes trópicos. Uma onda de adaptações de clássicos da literatura ocidental, de Cervantes a Shakespeare, e da grande literatura russa tomou de conta daqueles anos. Vivia-se o que se convencionou chamar de uma nova russofilia, pois as obras eram usadas para reconstruir um sentimento de natividade pegando o gancho levantado pela “grande guerra patriótica” de 1941-1945.
O Capote, monumento da literatura russa, entrava neste movimento, e tinha a peculiar circunstância de ser um  enredo que valorizava o personagem subalterno por meio da diferenciação de classe na sociedade czarista, facilitando que se tornasse metáfora das preocupações revolucionárias e se comunicando com o “realismo socialista” vigente. Batalov trabalhou na construção dessa abertura e não ficou circunscrito ao realismo de base, pelo contrário, na verdade deslocaria essa estética como o fizeram boa parte das grandes obras do cinema russo-soviético de então.



Em termos de adaptação é uma obra bem humorada e trágica, conseguindo dosar os dois movimentos contidos no conto de Gogol. Começa pelo episódio no qual a mãe de Akaki Akakievich dá nome ao filho e passa logo à vida miserável do protagonista, magistralmente vivido pelo ator Rolan Bykov. Bykov conseguiu construir a pobreza refletida no espírito do personagem. Akaki é simples, ignorante e tem uma forma melancólica de lidar com sua penúria. Sua autoestima é baixa e é tratado como descartável por seus colegas de trabalho no “departamento”. Seu capote se torna a metáfora de tudo que lhe compõe: pobreza, exclusão e inferioridade. Vítima de chacota, quando percebe que o capote não lhe permite lidar com o frio assustador e o vento navalhante de São Petersburgo, começa a ver como substituir o roupão, mas o preço está muito além de seus pertences. Passa a economizar, reduzindo-se mais ainda à pobreza até que quando ganha um prêmio, e, finalmente, consegue o valor para comprar um novo capote que encomenda ao vizinho Petrovich.
Batalov consegue pintar os episódios centrais do conto à maestria, imprimindo um toque pessoal. A cena solene na qual Petrovich entrega o capote mostra um velho (vivido pelo ator  Yuri Tolubeyev) cuja própria dignidade está materializada na bela roupa que realizara. A solidariedade dos vizinhos de Akaki com seu capote é comovente, assim como a linda cena, que não consta no conto, na qual o protagonista deposita sua nova posse em sua cama e se despe para ela como se fosse um noivo, assim como o capote mais parece uma virgem em núpcias. Um dos poucos momentos sexualizados de Akaki e uma cena deslumbrante pela delicadeza com a qual o filme nos entrega um personagem.
Na verdade, o diretor construiu uma narrativa clássica na qual temos o estabelecimento de uma ordem dada (a exclusão de Akaki) será resolvida pela chegada do capote. Contudo, quando este chega, uma nova desordem é instaurada pois o protagonista não consegue conviver num mundo de efetiva inclusão, questão que fica evidente quando na festa concedida em sua homenagem, sente-se completamente deslocado. Para deixar claro isso, o filme pontua a situação do personagem a partir do cenário: a miserabilidade de Akaki está na estalagem na qual vive e no minúsculo quarto em que dorme. Ela é reforçada pelos belíssimos planos-sequência  nos quais o personagem caminha ao lado dos canais de Petersburgo tendo ao fundo a cúpula da Catedral de Santo Isaac, para chegar ao departamento. Quando sai da festa embriagado, a agitação da vida noturna de Petersburgo torna-se metáfora do estado de Akaki, assim como os corredores vazios nos quais ocorre o famoso roubo do capote reforça seu retorno ao isolamento.


É a partir dali que Akaki marcha à desolação e à morte, momento maior da atuação de Bykov, quando a solidão e o desespero pelo retorno à velha vida significa a anulação mal o coitado vivera a aurora do reconhecimento. Este retorno é maior do que o personagem pode viver e como no conto, ele morre para que seu fantasma fique perturbando aqueles que em vida não quiseram auxiliá-lo a encontrar o capote roubado. Contudo, o roteiro reconstrói esse fantasma para o novo momento.
o final da película ser um pouco carnavalesca demais em relação ao conto, mas seu sentido preservou o desalinhado que a morte de Akaki produziu. Batalov desistiu do elemento fantástico de Gogol por achá-lo inadequado a uma estória essencialmente teatral que montara marcada pelo realismo. Mesmo o famoso roubo do capote do “inspetor” torna-se um episódio mundano ao qual se sobrepõe uma alucinação. O realismo, como foi exposto anteriormente, faz parte do universo no qual Capote, a fita, se inseriu. Ainda não estava consagrada no cinema soviético a ideia da sobreposição poética ou alucinatória entre sonho e realidade  que tornaria famosa a “nova vaga” soviética dos anos 1960 a partir das fitas de Tarkovsky.
O belo filme de Batalov permanece o retrato fiel de um tempo outro, o de sua produção, quando formas de humanização da pobreza tornavam-se oportunidade de expressar um sentimento de inovação e inadequação que Akaki personifica, matéria-prima que agradava a Goskino (o órgão regulador do cinema soviético) e permitia a criação poética em alto grau. Impossível não se sensibilizar com Akakievich e não sentir uma ponta da mesma energia poética que fazia parte do Carlitos da primeira metade do século XX. Contudo, estamos longe da ingenuidade de Chaplin que fazia de seu personagem o contraponto à miséria da qual fazia parte. Akaki é um retrato da maldição; o bom humor da tragédia como forma de lidar com a miséria. Todo humor, contudo, está na forma de contar a estória e não no personagem.
Fonte: O Passo do Tempo

Um comentário:

  1. Um blog sempre interessante em busca de novas culturas.Quanto ao filme não se trata apenas de uma obra rara,mas também uma oportunidade de conhecer melhor o cinema russo.Mais uma vez obrigado!

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