Humanité, 1999
Bruno Dumont
Formato: AVI
Aúdio:Francês
Legendas: Português
Duração: 141 minutos
Tamanho: 697 Mb
Servidor: Zippyshare
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SINOPSE
Essa é a história de um homem simples, que acredita nas pessoas com toda a pureza e ingenuidade de alguém que vive num mundo à parte, alheio à realidade. Seu nome é Pharaon de Winter (Emmanuel Schott). Ele é tenente de polícia e mora em Beilleul, com sua mãe. No entanto, sua existência modesta e pacata se tranforma com a ocorrência de um crime hediondo. Pharaon diante da tragédia é incapaz de compreender a humanidade à sua volta. Solitário, divide sua dor com a vizinha Dominó (Séverine Caneele). Esse amor platônico o consome lentamente e o faz sofrer, assim como a investigação do crime, que revela seu desespero e o medo de sua própria existência.
Fonte: Pipoca Online
ANÁLISE
por Cléber Eduardo
Somos
informados sobre um crime logo no início de A Humanidade. Uma menina de
11 anos foi assassinada, mas não temos a informação de quem a matou. A única
pista é dada na primeira cena, um plano aberto de um descampado, no fundo do
qual passa um homem, sem sabermos de quem se trata. Essa falta de certeza será
mantida até o final. Embora não sejamos conduzidos por uma narrativa clássica
policial, na qual os caminhos da coleta de pistas ocupam o papel principal, a
revelação da identidade do assassino é de fundamental importância. Chega a
levar o filme a dar um salto em sua estatura e alcance. Isso não significa que,
antes do desvendar do mistério, somos mantidos no escuro. Luzes são jogadas
sobre o meio em que a ação quase sem ações é desenvolvida.
Que meio é
esse? Uma cidadezinha francesa modorrenta, nas região de Flandres, próxima à
Inglaterra, onde não há muito para ser feito. A passagem de um veículo em alta
velocidade pelas ruas desertas constitui um evento nesse cenário tedioso. O
ambiente aparentemente harmonioso e pacífico, no entanto, carrega um peso no ar
compatível com o crime investigado. Há algo de sombrio naquela região cercada
de natureza por todos os lados. Os impulsos violentos dos personagens começam a
ser lentamente projetados na tela enquanto o protagonista ajuda na solução do
caso. Tal sujeito é um policial abobalhado. Está apaixonado pela namorada do
amigo, carrega o fardo de uma perda traumática e é afetado pela morte da
menina. Nada mais sabemos dele.
O enfoque se
fecha nesses três tipos: o policial, seu amigo e a namorada deste. Diante da
falta do que fazer e do que falar, o protagonista apenas trabalha, tem umas
conversas fiadas com a namorada do amigo e acompanha o casal em passeios bocós.
É expressiva a cena em que, diante do mar, com a Inglaterra ao fundo, eles
mantém o olhar pedido. Estão presos em uma condição da qual não têm como sair,
escravos de si mesmos e de suas naturezas. Também são sintomáticas as cenas de
sexo entre o amigo e a namorada. Só naquela atividade física eles encontram
escape para seus impulsos. Quase sorumbáticos, os personagens estão prestes a
explodir. Seja pela violência, pelas lágrimas ou pelo sexo.
A Humanidade
é o segundo longa-metragem de Bruno Dummont.
Representa uma evolução em relação a A Vida de Jesus, embora seja quase
um complemento àquele, também ambientado em uma cidadezinha que, em sua excessiva
tranquilidade, estimula os instintos obscuros dos seres. O diretor é preciso ao
fazer o ambiente dos dois filmes invadir a tela e a nós mesmos. Somos tomados
por seu tédio, por seu peso e por seu vazio, a ponto daquilo ficar quase
insuportável. E não é apenas o ritmo devegar quase parando que é captado pela
narrativa não menos e pertinentemente arrastada. A câmera também reproduz o
ponto de vista do policial palerma ao olhar para as imperfeições das pessoas ao
seu redor (a mão da mãe, o pescoço do chefe). Isso mesmo: é com imperfeições
que estamos lidando aqui.
E sem
maquiagem. Não há nenhum efeito nas imagens, nenhum enfeite no enquadramento,
nenhuma firula na montagem, nenhuma sustentação de climas pela música, a não
ser a de um orgão tocado em cena. Esse rigor franciscano, confundido com
excesso (no caso da metragem), em tudo se diferencia, por exemplo, dos frutos
do Dogma 95. Em vez de um estilo que berra aos olhos, temos o estilo
sussurante. O suficiente para criar um universo por inteiro. É quase
impossível, como sempre se faz quando se escreve sobre Dummont, não citar
Robert Bresson. Não apenas pela composição, mas pelo esboço da vida. Estamos em
um mundo em que há muitas questões sem soluções. O homem como impasse. A vida
como uma experiência sem um sentido dado de antemão. É preciso buscá-la. E a
procura é tortuosa.
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Vocês podem corrigir o link?
ResponderExcluirNostromo