ANIMAL FARM, 1954
Legendado, Joy Batchelor e John Halas
|
Classificação: Bom |
Formato: AVI (DVD-Rip)
Áudio: inglês
Legendas: português
Duração: 72 minutos
Tamanho: 694 MB
Servidor: Megaupload (3 partes)
LINKS
SINOPSE
Desenho animado produzido na Inglaterra que faz adaptação do clássico de George Orwell. A obra que narra a história do fazendeiro Jones, um homem beberrão e cruel que explora seus animais. Revoltados com seu proprietário, os animais se organizam e tomam posse das terras, passando a controlar o lugar e decretando uma série de novas regras. Os porcos, no entanto, querem uma sociedade ideal por meio da opressão, o que faz surgir uma nova revolta.
Crítica (contém spoiller)
A Revolução dos Bichos, de George Orwell, é inegavelmente uma das fábulas mais tristes já escritas: além de ser uma ácida análise/crítica dos rumos tomados pela União Soviética após a Revolução Socialista, também funciona como um ótimo estudo sobre a corrupção do poder. Já essa versão do conto de Orwell dirigida pelo casal John Halas e Joy Batchelor, embora tenha suas deficiências, conta com a vantagem de ser mais coerente com a intenção do autor em seu desfecho do que o encerramento ideologicamente distorcido da versão realizada em 1999 para a televisão.
As alusões são claras; não é preciso um grande poder de dedução para chegar aos representados. Após anos de maus tratos, os animais da Granja do Solar (Rússia) expulsam seu dono, o bêbado Sr. Jones (czar Nicolau II), e passam a administrar a fazenda por conta própria, seguindo as ideias do velho Major (Karl Marx) e a liderança dos porcos, os animais mais inteligentes. Dentre estes se destacam o progressista Bola de Neve (Leon Trotsky) e o escuso Napoleão (Josef Stálin). Ambicioso, mas cansado dos planos de desenvolvimento de seu companheiro, Napoleão expulsa Bola de Neve da fazenda, iniciando um reinado de terror maquiado pela propaganda de seu braço direito Garganta (imprensa soviética).
Um dos grandes problemas enfrentados por essa animação é o roteiro que, extremamente esquemático e expositivo, insiste em martelar o óbvio na cabeça do espectador: quando vemos Napoleão encontrando os cãezinhos órfãos, por exemplo, somos perfeitamente capazes de perceber suas intenções sem a necessidade de incluir planos e mais planos do porco escondendo os filhotes. Da mesma forma, a riqueza de idéias do texto de Orwell é grande demais para um filme de apenas 70 minutos de duração. O resultado é que em vários momentos sentimos que o filme está correndo contra o tempo para chegar ao final: basta notar a forma abrupta com que percebemos a corrupção dos porcos (algo que no livro – e na versão de 1999 – acontecia de forma bem mais gradual).
Outro fator que contribui para o estranhamento é a quase ausência de diálogos: é bem menos interessante, para uma história como A Revolução dos Bichos, acompanhar o desenrolar dos acontecimentos a partir de uma narração em terceira pessoa, já que as ricas relações entre os personagens é um dos grandes trunfos do livro. Não é à toa que os melhores momentos do filme são aqueles que envolvem diálogos, de forma direta ou indireta (e o trabalho vocal do ator Maurice Denham, responsável pela dublagem de todos os personagens, é fenomenal). Para piorar, a égua Quitéria, que funcionava como representante do leitor (e que na versão de 1999 foi substituída por uma cadela), é completamente cortada da trama, e as tentativas de substituí-la pelo cavalo Sansão e pelo burro Benjamim são mal-sucedidas, já que os dois ganham mais destaque apenas nos minutos finais.
Mesmo com todos esses graves problemas, no entanto, a história de Orwell é forte demais para ser facilmente sabotada por falhas narrativas. É comovente ver os animais visitando a casa de Jones, onde encontram inúmeros restos mortais de outros companheiros, transformados em objetos ou comida (neste caso, as imagens falam por si mesmas); e inspirador vê-los trabalhando sem ordens ou agressões, tentando construir uma sociedade mais justa. Da mesma forma, é triste ver seu sonho ser sabotado pela ambição doentia de Napoleão, que torna as coisas quase tão ruins quanto eram nos tempos de Jones – apesar da propaganda de Garganta convencê-los do contrário, é óbvio. Vale ressaltar também a coragem de Halas e Batchelor ao enfocar a violência da história, trazendo (de forma quase sempre implícita, mas inequívoca) as várias mortes ordenadas por Napoleão ou causadas por ataques de fazendeiros vizinhos. Nesse sentido, merecem destaque a cena em que um gato é estraçalhado por vários cachorros (algo que deve ter levado vários pais desinformados à loucura) e outra em que o mandamento “Nenhum animal matará outro animal” recebe um macabro adendo (“sem motivo”) escrito com sangue.
E é então que chegamos ao ponto mais delicado do filme (se não quiserspoilers, pare de ler aqui): ao contrário do final de 99, que, realizado depois do fim da URSS, anunciava declaradamente esperança no sistema capitalista (Orwell deve ter se revirado no túmulo), essa versão traz um encerramento que, mesmo distanciando-se um pouco do livro, acontece de forma bem mais plausível: é mais aceitável que Orwell defendesse manutenção e reformas no sistema socialista do que um quase “tragam os chefes de volta” – mesmo se considerarmos o pessimismo de sua obra mais famosa, o angustiante 1984 (A verdade é que Stálin morreu durante a produção do filme, e os realizadores tiveram a ideia de oferecer uma nova perspectiva).
Contando com uma bela animação e com uma trilha sonora adequada, A Revolução dos Bichos pode ter grandes falhas, mas graças à força do trabalho de Orwell, consegue se manter ao menos como uma versão rápida do livro – o que, na prática, só é útil para quem está com prazos apertados para o trabalho da escola sobre o livro. Mas se for suficiente para despertar interesse pelo material original, tem ao menos um mérito grande e inquestionável.