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segunda-feira, 30 de julho de 2012

TETRALOGIA ALEKSANDR SOKÚROV

Coleg@s, entre os dias 31/07 e 06/08 o Convergência Cinéfila disponibilizará os filmes Moloch (1999), Taurus (2001), O sol (2005) e Fausto (2011), que compõem a chamada  "Tetralogia do poder”, filmes cujo diretor é Aleksandr Sokúrov. Os filmes serão postados de acordo com a sequência cronológica. 


Att.,
Hilarius

sábado, 28 de julho de 2012

CIDADE ZERO - 1990

Город Зеро, 1990
Legendado, Karen Shakhnazarov

From Russia, Kafka in Wonderland
Com enfoque Kafkaniano, o ambiente parece mais com o País das Maravilhas de Lewis Carroll do que Moscou. Gradualmente, Aleksei é roubado de sua liberdade e de sua identidade, com direito à queda na toca do coelho.

O filme retrata de forma magistral o espírito da época, o sentido humano daquela sociedade no final dos anos 80. É para isto que precisamos de arte e de criadores que intuam os fluxos sociológicos e os sintetizem em sua expressão artística, e a nossa adorável arte cinematográfica foi premiada com uma peça maravilhosa, com humor inteligente e abordagem inusitada.

Muitos críticos vêm o filme como uma crítica ao período Stalinista, nada mais longe desta abordagem fácil, o filme retrata a URSS no período em que foi filmado, onde tudo era absurdo e disfuncional. Aliás, no período de Stalin foi o contrário, a URSS saiu de uma sociedade agrícola atrasada para uma superpotência industrial-nuclear, além de derrotar a Alemanha no meio do caminho. O filme não faz crítica ao autoritarismo.
O filme trata da história do engenheiro Aleksei Varakin de Moscou que chega a uma pequena cidade para solicitar alterações nos componentes que uma fábrica local fornece a sua empresa, e a partir de sua chegada para uma reunião com o diretor da empresa, iniciam-se eventos absurdos e o pobre engenheiro é envolvido em um turbilhão de situações sem nexo.
A sucessão de absurdos faz mímica com a URSS da época, é genial a abordagem. A URSS da época já havia perdido o sentido para seus cidadãos, caminhava lentamente por inércia, como uma lembrança de um passado perdido que não tinha mais razão.

A atmosfera da primeira cena do filme, o desembarque na estação, o céu enevoado, o homem parado, o trem, é uma introdução elegante para o ambiente bizarro do filme, mas a direção mantém sempre o ritmo, a sátira, o inesperado, um grande filme, um jeitão soviético, completamente distinto da rima e métrica que estamos habituados no ocidente, foi um prazer assistir.

Fonte: Engajarte


GOROD ZERO – 1990

Título original: Город Зеро (Gorod Zero)
Título em inglês: Zero City
Direção: Karen Shakhnazarov
Roteiro: Aleksandr Borodyanskiy e Karen Shakhnazarov 
Gênero: Drama/ Comédia
Origem: União Soviética
Ano de lançamento: 1990
Música: Eduard Artemiev 
Fotografia: Nikolay Nemolyaev 

The Internet Movie Database: IMDB - 7.4/10


Sinopse
Engenheiro moscovita viaja para uma cidade interiorana com a missão de especificar para uma indústria local mudanças práticas nos aparelhos de ar condicionado que fabrica. Porém nesta cidade todos parecem ser loucos e ele acaba envolvido em um misterioso caso de suicídio. Curioso e inteligente filme do período da Perestroika, com roteiro surrealista.


Elenco
Leonid Filatov - Aleksei Varakin 
Oleg Basilashvili – o escritor 
Vladimir Menshov – o fiscal 
Armen Dzhigarkhanyan – o diretor da fábrica 
Evgeni Evstigneev – o funcionário do museu 
Aleksei Zharkov – o detetive 
Pyotr Shcherbakov – o presidente do comitê 
Yuriy Sherstnyov – o garçom 
Yelena Arzhanik – a secretária 


Informações do Arquivo
Formato: AVI
Qualidade: DVDRip 
Áudio: Russo
Legendas: Português/BR 
Duração: 98 min 
Cor

Tamanho: 1,45 GB
Servidores: Mediafire (8 partes) e Zippyshare (Torrent) 


LINKS

Torrent





















OBS: Filme postado originalmente por Acullen com algumas modificações de Hilarius. 

sexta-feira, 27 de julho de 2012

TERRA EM TRANSE - 1967

Terra em transe, 1967
Glauber Rocha
"Este é o povo: Um imbecil, um analfabeto, um despolitizado"
Classificação: Excelente 

Formato: AVI
Áudio: Pt-Br
Duração: 106 min.
Tamanho: 711 MB
Servidor: Mega (Parte única)

LINK

SINOPSE
Num país fictício chamado Eldorado, o jornalista e poeta Paulo (Jardel Filho) oscila entre diversas forças políticas em luta pelo poder. Porfírio Diaz (Paulo Autran) é um líder de direita, político paternalista da capital litorânea de Eldorado. Dom Felipe Vieira (José Lewgoy) é um político populista e Julio Fuentes (Paulo Gracindo), o dono de um império de comunicação. Em uma conversa com a militante Sara (Glauce Rocha), Paulo conclui que o povo de Eldorado precisa de um líder e que Vieira tem os pré-requisitos para a missão. Grande clássico do Cinema Novo, o filme faz duras críticas à ditadura.

Fonte: Interfilmes
The internet movie database: IMDB - NOTA IMDB: 7.5



ANÁLISE

À Beira do Abismo
por Daniel Caetano

O filme anterior de Glauber Rocha, Deus e o Diabo na Terra do sol, havia sido concebido e filmado ainda em 1963, antes do golpe militar que derrubou João Goulart e que pouco a pouco ia minando boa parte dos sonhos de sua geração. A conversa agora era outra. O mundo a mudar não estava escondido no interior distante, o mundo estava mudando para pior em todos os lugares, em plenas metrópoles, o mundo estava mudando bem debaixo das fuças dos idealistas que achavam que estavam mudando o mundo. Terra em Transe é sobre isso, é sobre essa paulada na cabeça que foi ver suas ilusões indo por água abaixo após a violência institucional.
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Como é dito no filme, pelo seu protagonista, Paulo Martins:
"Não anuncio cantos de paz, nem me interessam as flores do estilo."
Esclarecendo depois:
"Todos somos simpáticos, desde que ninguém nos ameace"
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Cinema Novo? O intelectual muda o mundo? Todo mundo dizia que "cinema novo é Glauber Rocha no Rio de Janeiro".
Nem todo "movimento cultural" merece ser classificado como tal. Não raro, não há pontos em comum entre seus produtos, além de serem produzidos na mesma época e/ou pela mesma geração. Mas há algo que une claramente filmes e idéias daquilo que chamamos Cinema Novo: todos os filmes procuravam definir o país, todos os filmes procuravam mostrar um olhar sobre o Brasil, fosse por singularidades, analogias ou alegorias.
Depois de uma primeira fase, uma fase de "mergulho no país", os cineastas estavam voltando o seu olhar para si. Mais do que meramente urbana, aquela que chamamos de segunda fase do Cinema Novo acabava sendo uma análise do papel deles mesmos e da sua geração. Só que isso não se restringiu aos cinemanovistas.
Lembrando o intelectual interpretado por Paulo Goulart em Rio Zona Norte, já dá para notar a descrença que o cinema daquela época tinha na ação dos "sábios", mesmo olhar descrente que também aparecia em algumas cenas do filme de Diegues, A Grande Cidade. Foi em O Desafio que Paulo César Saraceni se colocou como um agente do seu tempo, e percebeu como questão central o papel que eles, cineastas dispostos a "mudar o mundo", tinham naquilo tudo. Foi o primeiro de uma onda, numa série de filmes em que quem fazia cinema se viu no espelho, a si e à sua geração. É dessa fase, além dos citados Terra em Transe O Desafio, também O Bravo Guerreiro, de Gustavo Dahl, São Paulo S.A., de Luís Sérgio Person,As Amorosas, de Walter Hugo Khouri, A Vida Provisória, de Maurício Gomes Leite, El Justicero, de Nelson Pereira, e mesmo os filmes de Domingos de Oliveira, entre outros. Com todas as imensas diferenças que têm, são filmes que retratam a geração a que pertenciam os cineastas. E vale lembrar que é dessa época o documentário que Joaquim Pedro de Andrade fez para uma rede de Tv alemão, Cinema Novo, mostrando seus amigos produzindo e apresentando seus filmes, mostrando inclusive parte das filmagens de Terra em Transe, no Teatro Municipal.
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Terra em Transe é um filme especial. Será que isso é uma obviedade? Deve ser, mas é preciso reafirmar. No início da década passada, foi contestado por um célebre dramaturgo televisivo, que repetia os mesmos argumentos de que zombava Glauber no artigo que publicamos nessa edição. Ninguém entende o filme, dizem alguns. A resposta do cineasta ponderava sobre o cinema equivalente à poesia de Rimbaud ou à pintura de Cézanne ou Van Gogh. É preciso entender tudinho?
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Diz Paulo Martins no filme:
"Precisamos resistir, resistir!, e eu preciso cantar, eu preciso cantar!

Não é mais possível essa festa de medalhas..."

É um filme especial. Operístico e barroco são sempre os adjetivos que acompanham esse tipo de análise. Pois é, é isso aí. É um filme na corda bamba, é um filme desesperado e amargurado. É o triste fim de quem levou a sério a idéia de mudar as condições sociais do país.
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Em Eldorado, capital de um país de mesmo nome, Paulo Martins é um poeta que trabalha como jornalista e "ghost-writer" de políticos, um sujeito que, com suas ambições poéticas, pretende conciliar a ética e a estética. Quer ser poeta, mas quer falar de temas... políticos! Não tendo espaço para isso em Eldorado, abandona sua namorada arranjada e seu protetor, o senador eleito Porfirio Diaz, e, e vai para a província de Alecrim, onde conhece Sara, descobre a pobreza de seu povo e passa a assessorar Felipe Vieira, candidato a governador. A impostura populista de Vieira logo se revela, e um golpe é tramado para lhe tirar do poder. Diante da covardia de Vieira, Paulo se desespera e prega a luta armada. Foge, e acaba sendo baleado.
O filme é contado quase todo num imenso flash-back, onde Paulo, às portas da morte, relembra toda a história. Através desse mote, de uma história relembrada por um homem agonizante, aparece uma trama que enlaça um sujeito que, a despeito de seu temperamento impetuoso e das pequenas maldades que comete, permanece ligado aos seus ideais até o fim, até o ponto em que for necessário.
Parece que todo o filme se sintetiza na percepção amarga de Sara: "A política e a poesia são demais para um só homem". Paulo Martins diz ter "A fome do absoluto", busca até o fim conciliar os extremos, e fracassa.
Dom Porfirio Diaz é um inimigo odiado e admirado, é quem perdeu todos os pudores em busca do poder pelo poder, capaz de trocar de aliados ao sabor dos ventos. Tem um discurso totalmente fascista, é talvez o mais claro vilão dos filmes de Glauber. É elite desde Pedro Álvares Cabral, e de lá não sai por fazer política com competência. Política dessas que se faz nos escritórios. Diaz tem horror do povo e das ruas. Foi radical de esquerda na juventude, e agora seu discurso é pela família e por Deus.
Felipe Vieira é o aliado-símbolo, o líder político que acaba por se mostrar frágil, covarde, populista, ineficiente. É o fascínio pelo papel desempenhado por João Goulart, o líder que não existiu. Paulo, o ideólogo de Vieira, se vê traído pelo seu patrão, o magnata das comunicações Julio Fuentes. Fuentes, que se considera um "homem de esquerda", é convencido do perigo que corre com a ascensão de projetos populistas, e acaba se unindo a Diaz e à multinacional Sprint, fabricante de armas, para impedir a vitória de Vieira na eleição presidencial que se aproxima. Diante de um acontecimento fortuito, em que Vieira vacila diante da necessidade de sacrificar um leão-de-chácara aliado (referência a Vargas e Fortunato? Ou profetização do Riocentro?), os acontecimentos se precipitam, e os militares tratam de tirar Vieira do poder. Diaz nos informa, zombeteiro, que a luta de classes existe, e pergunta a cada um da platéia, você sabe a que classe pertence?
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O que é mais triste, a sordidez do projeto elitista e autoritário? Ou a fragilidade mentirosa do projeto populista? Vieira vai ao populacho, abraça todo mundo e não resolve nada, ao contrário, só faz cagadas. Já Diaz nem cogita em chegar perto do povo. (teria medo de perder o Rolex, talvez).
E o povo? O povo é representado por José Marinho, numa cena famosa e antológica, em que ele, presidente de sindicato, é instado a se manifestar, e inicia um discurso óbvio e despreparado. É interrompido por um irritado Paulo, que nos diz:
"Este é o povo: Um imbecil, um analfabeto, um despolitizado".
Não há esperança nas ações do povo. Não há esperança na fibra dos políticos honrados. Muito menos no discurso reacionário. Terra em Transe é amargurado, é um filme que termina destruído como seu protagonista. Vai até as raias da loucura por seu idealismo, e termina desiludido e abandonado, partindo numa tentativa desesperada, que nada mais seria do que o encontro com seu fim. A luta por ideais justifica a vida, e é preferível o fim da vida a continuá-la sem seus ideais. É o destino reservado aos mártires.
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Talvez seja um filme ultrapassado nos dias de hoje. Alguém acha isso?
O que pode querer dizer "datado"? Sim, acho que Terra em Transe é datado, é um filme que surge de seu momento, que não poderia existir nem antes nem depois. E isso só o torna mais significativo, mas não anula qualquer uma das suas questões ou obscurece qualquer que seja das suas imensas qualidades.
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Logo no início, diz um letreiro, com parte do poema de Mário Faustino que inspirou o filme:
"Não conseguiu firmar o nobre pacto

Entre o cosmo sangrento e a alma pura

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Gladiador defunto, mas intacto
(Tanta violência, mas tanta ternura)"

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Agora me lembro de quando tinha catorze anos de idade.
Alguns filmes nos dão imenso prazer. Alguns outros marcam nossa memória. Uns poucos podem até ajudar a definir nossos padrões, éticos ou estéticos. Mas há os casos em que um filme balança nossa cabeça e muda o norte de nossa vida, há casos em que o impacto de uma obra pode ajudar a resolver questões definitivas para nós, pode, enfim, mexer conosco a ponto de decidirmos "o que vamos fazer na vida".
Acho que a melhor maneira de encerrar este texto é reconhecendo que é assim que me lembro de Terra em Transe.


Análise retirada do site Contracampo
Para outra análise do filme "Terra em Transe" o Convergência Cinéfila indica o artigo "TERRA EM TRANSE (1967, GLAUBER ROCHA): ESTÉTICA DA RECEPÇÃO E NOVAS PERSPECTIVAS DE INTERPRETAÇÃO", escrito por Alcides Freire Ramos, da Universidade Federal de Uberlândia. Para acessar o artigo clique aqui.
















































































































































quarta-feira, 25 de julho de 2012

OS MESTRES LOUCOS - 1955

Les Maîtres fous, 1955
Legendado, Jean Rouch
Classificação: Bom

Formato: AVI
Áudio: francês
Legendas: Pt-Br
Legendas: português
Duração: 30 min.
Tamanho: 227 MB
Servidor: Mega (Parte única)

LINK

SINOPSE
Filmado em apenas um dia, o filme revela as práticas rituais de uma seita religiosa. Os praticantes do culto Hauka, trabalhadores nigerienses reunidos em Accra, se reúnem à ocasião de sua grande cerimônia anual. Na ‘concessão’ (…) do grande padre Mountbyéba, após uma confissão pública, começa o rito da possessão. Saliva, tremedeiras, respiração ofegante… são os signos da chegada dos ‘espíritos da força’, personificações emblemáticas da dominação colonial: o cabo da polícia, o governador, o doutor, a mulher do capitão, o general, o condutor da locomotiva, etc… A cerimônia atinge seu ápice com o sacrifício de um cão, o qual será devorado pelos possuídos. No dia seguinte, os iniciados retornam às suas atividades cotidianas.

The internet movie database: IMDB - NOTA IMDB: 7.0



ANÁLISE

A contestação do modelo civilizatório europeu, através do, a princípio, estranho e violento ritual dos haouka, na Costa do Ouro africana. Em Os Mestres Loucos, Jean Rouch se detém sobre a estratégia fundamental dos povos colonizados para resistir aos colonizadores: apropriar-se dos signos que efetuam a dominação e retrabalhá-los, questionando-lhes a naturalidade, a fim de assegurar a inserção e a sobrevivência em uma sociedade injusta e hostil.

Accra, Costa do Ouro, África. Centro urbano e comercial, sob domínio britânico, cuja efervescência econômica atrai populações de todo continente, ávidas por empregos. No mercado de sal, reúne-se, todo dia, o grupo de trabalhadores africanos que professa a cerimônia dos haouka, filmada por Rouch. Mesmo que pareça bárbaro aos olhos caucasianos de Ocidente, o ritual em questão, porém, nada mais representa que a reação dos personagens ao exemplo de civilização imposto pelo sistema colonial europeu, a saber, branco, cristão, capitalista e tecnológico, enraizado no preconceito racial, na profunda separação entre as classes sociais, no controle do poder político local e na violência militar.

Assim, os deuses haouka, bem como o culto religioso que os envolve, não se originam na tradição cultural africana, mas nascem do contato da África subdesenvolvida e miserável com as potências capitalistas coloniais que a exploram. Deuses da técnica, de uma religião que se alimenta da modernidade, seja ao copiar os protocolos e a estrutura hierárquica dos conquistadores ingleses, seja ao aludir às máquinas características do progresso tecnocientífico: o "maquinista", o "piloto de caminhão", os "sentinelas" (que guardam o lugar sagrado com falsos rifles de madeira), o "general", o "tenente", o "caporal de serviço", a "prostituta" e o "comandante" (que fala e ordena somente em francês, remetendo aos primeiros europeus na Costa do Ouro), além de outras entidades que se referem às transformações da milenar economia de subsistência africana em parte integrante da divisão internacional do trabalho como colônias ricas em mão-de-obra barata e em recursos naturais, cujas cidades experimentam relativa prosperidade graças aos investimentos metropolitanos na melhoria da infra-estrutura para a espoliação comercial.

Possuídos pelas divindades, os integrantes, em estado de transe catártico, reencenam o comportamento e as formas de interação social praticados pelos brancos. Não se trata, contudo, de aculturação, ou seja, da simples duplicação inocente e mecânica da realidade que observam diariamente na convivência desigual com o colonizador, o que confirmaria assim a suposta superioridade racial européia sobre os povos atrasados da África. Uma vez que Jean Rouch estabelece o corte magistral que contrapõe o ritual dos haouka ao da parada militar britânica no qual aquele se baseia, torna-se clara a estratégia de desconstruir o modelo colonial de organização política da sociedade africana, tomado como natural e verdadeiro, para mostrá-lo tão arbitrário quanto qualquer outro, apenas mais um meio de dominação que se valida pela força das armas e pelo poderio financeiro da Europa desenvolvida.

Desterritorializados pela invenção da prática haouka, a rede sígnica (na qual se encontra o ridículo penacho no capacete do comandante militar inglês) que antes reificava a supremacia européia, agora é posta em perspectiva para que os povos africanos constantemente marginalizados pelo processo colonial fundem suas próprias coordenadas dentro da sociedade que, via de regra, os classifica como meros animais, criando, em conseqüência, um novo espaço para o exercício da subjetividade e da liberdade. É ao se identificar com o colonizador – e ao contestá-lo – que o colonizado se legitima e se faz ouvir no meio social excludente em que vive.

Se, em geral, vemos somente a alienação dos dominados, em Os Mestres Loucos Jean Rouch, ao contrário, expõe a estupidez dos dominantes.

Fonte: Contracampo

Screenshots

segunda-feira, 23 de julho de 2012

QUAL VANGUARDA CINEMATOGRÁFICA VOCÊ QUER NO CONVERGÊNCIA CINÉFILA?


O Convergência Cinéfila quer saber dos coleg@s qual a vanguarda cinematográfica que deve estar presente no blog?As opções são:



1. Montagem soviética;
2. Surrealismo; 
3. Western;
4. Noir.


Para votar basta clicar em uma das opções no tópico ao lado.

Att.,
Hilarius

quarta-feira, 18 de julho de 2012

INSOLAÇÃO - 2009

Insolação, 2009
Felipe Hirsch e Daniela Thomas
Nunca me aconteceu nada, nem mesmo remotamente parecido com isso. Como tudo que é mundano e comum, se torna terrível e selvagem, quando o coração é destruído, por felicidade e amor em excesso.”


Formatos: AVI
Áudio: português 
Duração: 93 min.
Tamanho: 322 MB
Servidor: Firedrive (Parte única) 



SINOPSE
Numa cidade vazia, castigada pelo sol, jovens e velhos confundem a sensação febril da insolação com o início delicado da paixão. Como espectros, eles vagam entre construções e descampados em busca do amor inalcançável.

Fonte: Cineplayers
The Internet Movie Database: IMDB - NOTA IMDB: 6.1

ANÁLISE

Primeiro filme de Felipe Hirsch e Daniela Thomas é o Sokurov do cerrado

Insolação, primeiro filme que os colaboradores dos palcos Felipe Hirsch Daniela Thomas realizam juntos, usa filosofia e teatralidade para registrar o que seus realizadores chamam de "a melancolia do amor inalcançável".
A inspiração no cinema e na literatura russa é perceptível nos tempos, nos diálogos, em certos temas e até mesmo nos nomes das personagens (Vladimir, Zoyka, Andrei...). Estruturas e descampados silenciosos, solitários, abandonados e texturados da cidade de Brasília - ela própria prova de um desejo inalcançado - servem como pano de fundo às histórias de pessoas que vagam como fantasmas em busca de alento amoroso. Entre elas estão uma jovem ninfomaníaca, um garoto apaixonado pela primeira vez, um casal de adultos em profissões indistintas, uma Lolita e o narrador nostálgico, vivido por Paulo José.
Tempos longos e monólogos sucedem-se sem grande integração a não ser a estética, o amor e a perda. Nesse Sokurov do cerrado, com atores declamando seus textos com aspereza (Simone Spoladore é a única que consegue escapar da pesada direção de atores), o desprendimento estrutural confunde-se - e muitas vezes com razão - com aleatoriedade... e o resultado perde força.
Insolação é, assim, pessoal demais, cinema de umbigo, para público restritíssimo, com texto apaixonado pelo texto, cuja única relação com o todo é o tema central - dividido entre os protagonistas numa relação a la Contos de Canterbury, num quiosque ao ar livre.
Difícil e talvez pretensioso demais, o trabalho sobrevive nos méritos da fotografia - que soube fazer desaparecer dos quadros a população do Distrito Federal. Não há como buscar o amor se ninguém está ali, afinal.
Fonte: Omelete