Au revoir les enfants, 1987
Legendado, Loius Malle
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Classificação: Bom
Formato: AVI
Áudio: francês/alemão/inglês
Legendas: português
Duração: 104 min.
Tamanho: 723 MB
Servidor: 1Fichier (parte única)
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SINOPSE
França, inverno de 1944. Julien Quentin (Gaspard Manesse) é um garoto de 12 anos que frequenta o colégio St. Jean-de-la-Croix, em grandes dificuldades por conta da 2ª Guerra Mundial. Ele ganha um inimigo com a chegada de Jean Bonnett (Raphael Fejto), um introvertido garoto. Mais tarde Julien descobre que o menino é judeu e os dois se tornam melhores amigos, mas a tragédia chega à escola quando a Gestapo invade o local.
The Internet Movie Database: IMDB - NOTA IMDB: 7.8
ANÁLISE
Gastei muito tempo para realizar “Adeus, Meninos”. Eu vivia angustiado, com um medo terrível de não fazer bem feito. Hoje, vejo o filme como o apogeu da minha carreira. Poderia ter sido meu primeiro filme, pois nele existe a lembrança mais viva e mais forte da minha infância. Mas seguramente eu não era maduro o suficiente naquela época. Digamos então que é o meu primeiro filme que eu preparo já há muito tempo. ― Louis Malle
Louis Malle
Segunda grande guerra em segundo plano
Louis Malle, o francês não totalmente associado à militante nouvelle vague, registra seu passado com olhar de criança que perde a inocência. Sem tergiversar, pode-se dizer que em “Adeus, Meninos” (1987) o cineasta atinge um novo nível, o da excelência. A desobediência ao paradigma é a particularidade mais notável desse portento que reduz o termo “filme de guerra” à insignificância. Se for para qualificar, que seja de “documentário da infância em mutação”. O colégio católico, cenário do drama, isola seus meninos das grandes dores da guerra, mas infelizmente, com o auxílio do rancor, a crueldade mostrada de modo incomum, encontra brechas e a imunidade é destruída. Enquanto a vida em desenvolvimento permanece perfeita, somente os alarmes que anunciam os bombardeios podem ser ouvidos em alto e bom som. Até a abordagem do anti-semitismo é feita com certa suavidade; não que a intolerância surja insuficientemente relevante, mas age como um veneno que aniquila sem provocar um insuportável sofrimento. Atrair panegíricos é uma especialidade dessa película, verdadeiro êxito que fortaleceu a carreira claudicante de Malle, que, lançando mão da simplicidade, apenas contando um inesquecível período da própria infância burguesa, arrancou dos cinéfilos seus suspiros mais sinceros.
Julien Quentin (Gaspard Manesse) e Jean Bonnet (Raphael Fejtö) são os meninos protagonistas. O primeiro, logo no início, pega um trem com seu irmão (Stanislas Carré De Malberg) para retornarem ao internato católico após as férias. “Adeus, Meninos” utiliza a maior parte de seu tempo filmando a rotina dos internos em processo de preparação, com “ação” e abrangência bélica insuficientes, desenrolando-se quase que morosamente. Quem pode apontar a negatividade do fato? Ninguém, pois simplesmente não há. O objetivo de Malle não está latente ― ressuscitar o caos está longe de ser uma prioridade. Vale reiterar que a filmagem é realizada com o olhar de criança, tão viva como no passado reproduzido. Com a calma e a acuidade patentes em cada segundo do filme, o espectador sente-se à vontade para absorver as minúcias das imagens.
Jean Bonnet é um novo integrante do internato e imediatamente percebe-se que ele é um menino especial. Introspectivo e culto, Bonnet desperta a curiosidade de Julien. Irène Jacob, musa do bom admirador de Kieslowski, interpreta a professora de piano dos meninos em uma pequena participação. Concentrado, defronte ao instrumento, Jean demonstra um de seus talentos com admirável desenvoltura. Julien demonstra estar desabituado com o potencial e o comportamento do novo interno, mirando-lhe com olhar furtivo, cheio da curiosidade ainda pueril. Por maior que seja o desconforto, não se pode negar a inclinação de ambos para o surgimento de uma sincera amizade. Ressabiado demais, Julien investiga e acaba descobrindo as raízes judaicas do menino misterioso. A aproximação de ambos acontece por acaso, durante a atividade de caça ao tesouro em uma floresta aparentemente inócua ― fugindo dos demais, Julien e Bonnet, que fazem parte do mesmo grupo, separam-se e ficam à mercê dos perigos dissimulados da natureza. O reencontro acontece no cair da noite e os companheiros tentam encontrar o caminho de casa, quando de repente são localizados por um grupo de alemães (denominados chucrutes como era de costume na época), assustadores a princípio, principalmente para Bonnet, mas que os levam incólumes ao internato. Podemos observar a cortesia dos nazistas, um exemplo claro do desprezo ao paradigma, e a austeridade dos colaboracionistas. A mãe de Julien, representando a burguesia com eficácia, mostra-se incomodada com o péssimo tratamento dirigido aos judeus; contudo, sua atitude muda quando é questionada a respeito da possibilidade de existência do judaísmo na família. A igreja tem um padre com senso de humanidade em seus domínios, que arrisca sua vida salvaguardando meninos judeus clandestinamente. A separação dos meninos efetuada pelos bárbaros dispensa a tristeza que crianças desvelam sem o menor constrangimento, o sentimento é maduro, sem inocência. A idéia de morte, não efetivamente incisiva, paira com a presença do despotismo da Gestapo. É o próprio Louis Malle que fala quando os olhos de Julien enchem-se de lágrimas no momento da despedida definitiva. Adeus meninos, ou melhor, homens; adeus amigo...
“Pouco a pouco, eles iam se acostumando a uma outra realidade: calçar galochas no lugar de tênis, usar cabelos bem curtos, brincar com pedaços de pau... Eles voltaram no tempo sem perceber.” ― Louis Malle sobre os meninos protagonistas.