Tabu, 2012
Miguel Gomes
Aúdio: Português (Portugal)
Legenda: Português
Duração: 100 minutos
Tamanho: 867 Mb
Servidor: Zippyshare
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Parte 4
Parte 5
SINOPSE
Uma idosa temperamental, a sua empregada cabo-verdiana e uma vizinha dedicada a causas sociais partilham o andar num prédio em Lisboa. Quando a primeira morre, as outras duas passam a conhecer um episódio do seu passado: uma história de amor e crime passada numa África de filmes de aventura.
Fonte: Cineplayers
IMDB
TRAILER
Parte 5
SINOPSE
Uma idosa temperamental, a sua empregada cabo-verdiana e uma vizinha dedicada a causas sociais partilham o andar num prédio em Lisboa. Quando a primeira morre, as outras duas passam a conhecer um episódio do seu passado: uma história de amor e crime passada numa África de filmes de aventura.
Fonte: Cineplayers
IMDB
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ANÁLISE
Aurora.
por Filipe Furtado
Tabu contém uma das grandes sequencias de abertura do cinema
recente: o próprio cineasta Miguel Gomes narra a anedota sobre um
explorador europeu na África que, após perder a esposa, desaparece na
floresta, é consumido por um crocodilo e numa antropofagia dos
sentimentos se transmuta nele para a partir dali olhar. Há algo de
sedutor nas imagens com as quais Miguel Gomes conta sua pequena história
(versão em miniatura de muito do que virá a seguir), na maneira como Tabu encontra o equilíbrio entre o sentimento de descoberta ali contido e um profundo lamento romântico presente em seu espírito. Tabu é uma meditação sobre nostalgia e, como todos os grandes filmes sobre a História, é uma obra sobre o hoje.
Diante de Tabu, difícil não pensar na introdução do “A Era dos Extremos”, de Eric Hobsbawn, e sua afirmativa, já absolutamente datada no dia da publicação do livro, de que o século XX mergulhou num extremo de barbarismo sem igual na história da humanidade. É uma afirmação que se revelava datada não pela experiência das duas guerras mundiais que as informa, mas porque trai, por parte do grande historiador inglês, seu inevitável eurocentrismo, afinal o que exatamente torna o barbarismo das duas guerras da primeira metade do século mais intenso do que o de todas as guerras coloniais dos séculos anteriores que ajudaram a sustentar os mesmos impérios europeus que ruíram no pós-II Guerra? Tabu é essencialmente um filme sobre a impossibilidade hoje deste olhar eurocêntrico. Não é por acidente que seu casal de protagonistas, Aurora e Gian Luca, pertençam à mesma geração do historiador inglês, a última para o qual este olhar ainda chegava de forma natural (e não efeito dos delírios nostálgicos de setores da extrema direita do continente), para qual o paraíso europeu ainda era algo com o qual se podia sonhar.
O nome Tabu inevitavelmente traz associações claras à própria experiência de F.W. Murnau com sua fita romântica colonial, mas é bom saber que originalmente Miguel Gomes pretendia dar a Tabu o nome de sua protagonista Aurora (a opção final foi decorrência de Cristi Puiu retomar o nome Aurora primeiro), de conotação igualmente próxima ao cineasta alemão, mas que pressupõe outra aventura romântica e outra forma de deslocamento para a colônia – não para a obscura Polinésia, mas a desenvolvida America e com ela uma mudança radical nas relações de poder entre o cineasta e o mundo que desvenda.
Diante de Tabu, difícil não pensar na introdução do “A Era dos Extremos”, de Eric Hobsbawn, e sua afirmativa, já absolutamente datada no dia da publicação do livro, de que o século XX mergulhou num extremo de barbarismo sem igual na história da humanidade. É uma afirmação que se revelava datada não pela experiência das duas guerras mundiais que as informa, mas porque trai, por parte do grande historiador inglês, seu inevitável eurocentrismo, afinal o que exatamente torna o barbarismo das duas guerras da primeira metade do século mais intenso do que o de todas as guerras coloniais dos séculos anteriores que ajudaram a sustentar os mesmos impérios europeus que ruíram no pós-II Guerra? Tabu é essencialmente um filme sobre a impossibilidade hoje deste olhar eurocêntrico. Não é por acidente que seu casal de protagonistas, Aurora e Gian Luca, pertençam à mesma geração do historiador inglês, a última para o qual este olhar ainda chegava de forma natural (e não efeito dos delírios nostálgicos de setores da extrema direita do continente), para qual o paraíso europeu ainda era algo com o qual se podia sonhar.
O nome Tabu inevitavelmente traz associações claras à própria experiência de F.W. Murnau com sua fita romântica colonial, mas é bom saber que originalmente Miguel Gomes pretendia dar a Tabu o nome de sua protagonista Aurora (a opção final foi decorrência de Cristi Puiu retomar o nome Aurora primeiro), de conotação igualmente próxima ao cineasta alemão, mas que pressupõe outra aventura romântica e outra forma de deslocamento para a colônia – não para a obscura Polinésia, mas a desenvolvida America e com ela uma mudança radical nas relações de poder entre o cineasta e o mundo que desvenda.
O cinema é absolutamente central a tudo que torna Tabu o filme
que ele é. Poucas vezes nos encontramos diante de um filme no qual a
cinefilia informa tão diretamente seus méritos. É só através do cinema
que este olhar pode ser recuperado e devidamente lamentado por uma
última vez. Todo o filme se constrói sobre a arte do filtro narrativo, e
se há algo espantoso no trabalho de Miguel Gomes aqui é justamente a
maneira como ele pega o que poderia facilmente ser um empecilho e usa-o
para amplificar a força do seu filme. Tabu é um filme sobre
projeções (as de Pilar, das duas Auroras, de Santa, etc.) na qual o
cinema assume o seu grande papel de mediador da história. Somente esta
arte tão central ao século XX pode dar conta deste funeral, pode
permitir que este olhar se projetasse uma última vez. Tabu
encontra o poder do melodrama por meio de todas as técnicas de
distanciamento possíveis para a narrativa cinematográfica. Nisto, Miguel
Gomes não deixa de retomar o caminho de Murnau, que alcançava similares
resultados lançando mão de todo o peso do maquinário hollywoodiano.
Aqui, se está sempre com as emoções devidamente afloradas. Não à toa, todos os personagens se põem a chorar o tempo todo. Ninguém dissimula no mundo de Tabu; a irritação de Aurora com Santa e vice-versa, a paixão do pintor por Pilar, a irritação dela ao saber que não receberá sua turista romena, o amor entre Aurora e Gian Luca e a reprovação de seu amigo Mário... tudo em Tabu, mesmo o que permanece não dito, é sempre claro e direto, se resolve através de gestos e ações. A certa altura, Pilar vai ao cinema com seu amigo pintor e Gomes a filma emocionada, a ouvir uma versão em castelhano para “Be My Baby” das Ronettes – mesma versão que veremos a banda de Mário e Gian Luca tocar na segunda metade do filme. Podemos dizer que Pilar já vira o “Paraíso” de Tabu, mas é melhor dizer que o cinema a preparou para experienciar o “Paraíso” de Tabu.
Aqui, se está sempre com as emoções devidamente afloradas. Não à toa, todos os personagens se põem a chorar o tempo todo. Ninguém dissimula no mundo de Tabu; a irritação de Aurora com Santa e vice-versa, a paixão do pintor por Pilar, a irritação dela ao saber que não receberá sua turista romena, o amor entre Aurora e Gian Luca e a reprovação de seu amigo Mário... tudo em Tabu, mesmo o que permanece não dito, é sempre claro e direto, se resolve através de gestos e ações. A certa altura, Pilar vai ao cinema com seu amigo pintor e Gomes a filma emocionada, a ouvir uma versão em castelhano para “Be My Baby” das Ronettes – mesma versão que veremos a banda de Mário e Gian Luca tocar na segunda metade do filme. Podemos dizer que Pilar já vira o “Paraíso” de Tabu, mas é melhor dizer que o cinema a preparou para experienciar o “Paraíso” de Tabu.
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