A ficção oferece aparatos que permitem abrandar o insuportável na realidade. Por vezes, oferecem alternativas para acalentar sua dureza concreta, fabular realidades outras onde a projeção de um lugar melhor torna-se possibilidade. No entanto, em “Sem Deixar Rastros”, o diretor polonês Jan P. Matuszyński mantém-se fiel na retratação da morbidez corrupta de uma Polônia que não mede esforços para cobrir as impurezas dentro das instâncias estatais. Dentro dos 160 minutos de duração, a obra suscita uma imagem ampla, por vezes distante, mas capaz de encapsular uma repressão que suscita dores longevas, e para além da física.
O filme não se
demora na apresentação do evento, a morte de Grzegorz Przemyk (Mateusz
Górski) — fio condutor que enlaça pessoas que mais tarde serão
espremidas à exaustão pelo Estado. Não há espetáculo: é breve, abrupto,
curto, mas deixa marcas. A morte repentina do jovem estudante Grzegorz
representa a fragilidade da vida de qualquer um naquele momento. O
reconhecimento disso é expresso nas ruas, onde cerca de mais de 15 mil
pessoas acompanham a procissão de seu corpo até a igreja. A brutalidade
com que fora morto manda a mensagem de que o mesmo pode acontecer com
quem pensa como ele: a oposição. O corpo de um adolescente — ou de quem
quer que seja — não é páreo para a força física e política do Estado.
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Espetacular postagem! Obrigado.
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