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segunda-feira, 25 de março de 2013

BOM DIA, TRISTEZA - 1958

Bonjour tristesse, 1958
Legendado, Otto Preminger
Classificação: Bom


Formato: AVI 
Áudio: inglês
Legendas: português
Duração: 94 minutos
Tamanho: 803 MB
Servidor: Mega (Parte única)

SINOPSE
Paris. Cecile (Jean Seberg) tenta se divertir para esquecer a tristeza que se apossou dela. Esta tristeza teve origem no último verão, quando seu pai, Raymond (David Niven), um viúvo rico que só pensava em se divertir, viajou para a Riviera Francesa acompanhado por sua amante, Elsa Mackenbourg (Mylène Demongeot) e Cecile. 
Acontece que ele tinha convidado uma antiga paixão, Anne Larsen (Deborah Kerr), para acompanhá-lo, mas como não sabia se ela iria convidou Elsa. Anne ao saber da presença de Elsa ficou muito irritada e já pensava em ir embora, no entanto conseguiu controlar a sua raiva e foi ficando.
Após alguns dias Raymond e Anne decidiram se casar e comunicaram a decisão para Cecile, que, apesar de ser uma adolescente, sabia que isto seria bom para seu pai. Anne começa a se comportar como mãe de Cecile, dizendo que ela não deve mais ver Philippe (Geoffrey Horne), seu namorado, e se dedicar mais aos estudos. Esta situação cria uma forte tensão entre Anne e Cecile, sendo que Raymond fica do lado de Anne. Diante deste quadro Cecile articula com Elsa uma forma de fazer Anne e Raymond romperem o relacionamento.

Fonte: Adorocinema
The internet movie database: IMDB - NOTA IMDB: 6.8


ANÁLISE

Otto Preminger 
Em 1959, no plano final de Acossado, Jean Seberg desvia os olhos do protagonista deitado e dirige seu olhar para a câmera, e enfim diz sua última fala: "Qu'est-ce que c'est dégueulasse?". Dois anos antes, no entanto, a mesma Jean Seberg olhava, também em preto e branco, para a câmera. Não era no final do filme, antes no começo. Não observando um homem morrer, mas dançando com um homem que não lhe dá nenhuma vida. Por motivos muito evidentes, o plano de "olhar para a câmera" que se tornou revolucionário foi o do primeiro longa-metragem de Jean-Luc Godard, e não o de Bom Dia, Tristeza, de Otto Preminger. Mas esses motivos são tão evidentes quanto improcedentes: o primeiro apenas obedecia mais claramente a um programa de contestação da linguagem oficial, enquanto o segundo passeava sorrateiramente por uma complexificação da linguagem mais tradicional da ficção para dar conta em seus filmes da imensa gama de complexidade e ambigüidade moral que existe no mundo.


Nosso objetivo, naturalmente, não é jogar dois dos maiores cineastas que o mundo já deu um contra o outro, mas esboçar uma tentativa de compreensão do porquê de um determinado tipo de cinema, a saber, o de diretores como Otto Preminger e John Ford, possa ser colocado com tanta imprudência no saco de gatos de um "cinema narrativo clássico" que, a princípio, fecharia sobre si mesmo um universo de significados em que o espectador faria o papel de intérprete passivo dos signos evocados pela película, enquanto os filmes pós-Godard e Antonioni seriam a antítese disso tudo, a transubstanciação de Brecht no cinema. Bom Dia Tristeza, como diversos dos grandes filmes de Preminger, nos dá grandes motivos para duvidar dessa desajeitada clivagem teórica – e, com o passar dos anos, cada vez mais contestável. Ora, nos parece que há inúmeros meios de inscrever o espectador como entidade participante na ficção, e o distanciamento e o "cristal" são só alguns possíveis dentro de um extenso repertório, que de forma alguma exclui necessariamente o cinema narrativo. Otto Preminger é responsável por várias delas.


De todas, sua forma preferida de interferir na inocente fruição do espectador é a ausência de julgamento em relação a seus personagens. Preminger está mais interessado em criar uma relação entre valores distintos do que em dizer que um presta e outro não. Diante disso, cabe ao espectador sair de seu papel costumeiro e exercer ativamente seu próprio julgamento, sem a mão do diretor para direcionar para um ou outro lado, sob risco de ver unicamente planícies estéreis e plácidas ali onde há terrenos pra lá de tortuosos (e mesmo assim floridos). Em Bom Dia, Tristeza, nenhum dos personagens guarda para si o ponto de vista do filme. O trabalho de ponto de vista em Preminger consiste sempre em armar o teatro: dentro dele, as ações transcorrem sem torcida para qualquer parte.


Quando Jean Seberg olha para a câmera, logo no começo do filme, é na verdade para o palco, onde Juliette Gréco canta "Bonjour tristesse", que ela está olhando. Daí, o filme deslancha o passado recente da família de Jean Seberg, aliás Cécile. A trama é por demais simples: pai e filha, osbon vivants Raymond (David Niven) e Cécile aproveitam a vida entre Paris e o litoral francês. Sem preocupações de dinheiro, a vida é sempre uma festa, o mundo do trabalho e das obrigações encontra-se em outro lugar, mas não entre eles. À maravilhosa casa de veraneio deles na Côte d’Azur se junta Elsa Mackenbourg (Mylène Demongeot), namorada muito mais jovem de Raymond, tão frívola quanto eles mas um tanto mais tola. A adversidade nasce quando chega Anne Larsen (Deborah Kerr), antiga amiga da mãe de Cécile, uma estilista famosa, elegante, inteligente, linda e solteira. Convidada por Raymond um tanto sem pensar, Anne inicialmente sente-se humilhada pela presença de Elsa na casa, mas vai aos poucos lutando a luta no terreno um tanto licensioso da casa e acaba por conquistar Raymond. Com Anne como nova namorada, a vida de Cécile, que repetiu seu último ano na escola, vai ser reconduzida à responsabilidade. Cécile então arma com seu namorado Philippe e Elza um plano para separar os dois, que não dá exatamente os resultados que a moça esperava.

Há em toda essa maquinação gestos muito suspeitos, ou dúbios, ou até imorais. O fato de o filme ser constituído como um grande flashback em que o presente é em preto e branco e o passado é colorido acresce o tom de uma vida morosa, muito mais do que arrependida. Preminger abusa do underacting e evita uma estrutura de roteiro cheia de momentos de clímax, estabelecendo a situação de um presente contínuo e achatado, em que os personagens parecem mais flutuar do que agir propriamente. Ali, nesse ambiente cheio de marasmo e nesse espaço de tempo quase entre parênteses, qualquer gesto de personagem, da futilidade mais grave à maior alegria de viver, encontra sua plena expressão sob a câmera de Preminger que, passiva, registra e aceita da mesma forma, sem hierarquia moral, tudo que chega até ela.

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