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sábado, 23 de novembro de 2013

O ATO DE MATAR - 2012

The Act of Killing, 2012
Joshua Oppenheimer, Christine Cynn e Anonymous

Formato: AVI
Aúdio: Bahasa Indonesiano/ Inglês
Legenda: Português
Duração: 159 min.
Tamanho: 1,46 Gb
Servidor: Mega

SINOPSE
Na Indonésia, o golpe militar de 1965 levou um exército paramilitar a ser promovido a um autêntico esquadrão da morte. Em menos de um ano, mais de um milhão de pessoas foram executadas. Décadas depois, alguns membros desses esquadrões vivem como heróis e desejam contar orgulhosamente sua própria versão da história. Eles concordam não apenas em narrar seus assassinatos brutais, mas em reencená-los diante das câmeras, inspirados pelos filmes americanos que tanto adoram. Com produção executiva de Werner Herzog e Errol Morris, o filme levou dez anos para ser concluído.
Fonte: Cineplayers

TRAILER

ANÁLISE

A arte da guerra.

por Luiz Soares Júnior

Quando O Ato de Matar começa, rememorar é festivo, dançante: mas o décor nos parece estranho, anódino e sombrio demais para uma comemoração: infenso à aura; e o homem dança desajeitado, cambaleante no seu papel, como se uma máscara se forjasse ali – máscara que não cola inteiramente na cara, e percebem-se as frestas e as rugas do celofone rebelde: é que um morto se abrigou sob o papelão, e ameaça voltar à cena. “Persona”desde sempre foi um teatro perigoso- na corda bamba, esquizo e trágica, entre Mesmo e Outro, Algoz e Vítima… O filme será a história deste morto – destes tantos, épicos mortos – que o rosto-máscara do personagem, cansado de tanto mentir e beber, revelará.

Quantas vezes o cinema exercitou esta equação, assassinato e mise en scène? Talvez o filme paradigmático para se abordar esta sinistra consanguinidade seja Disque M para Matar (1954), de Hitchcock – e os elementos necessários à concentração e condensação da pulsão mortífera, suasituaçãonum espaço-tempo de cena já conhecemos: décor reduzido, papel ativamente carnívoro da câmera, onipresença do fora de campo, coalescente instância de treva que executa com a câmera um jogo erótico de precipitação e retração, aqui e lá… Mas O Ato de Matar também é um documentário: ele tira da mise em scène o papel de mediação alquímica fundamental na economia de representação do crime, e apela aocacheda tela – ao final de uma longa história, voltamos a Bazin e sua dicotomia entre a janela de Brunelleschi e ocacheda tela… algo se revela e ao mesmo tempo se oculta aqui. Cabe a nós jogar este jogo, decifrar esta charada, encontrar o Minotauro acuado, ao fundo do espelho.

Em Festim Diabólico (1948), Hitchcock dá à câmera uma maleabilidade e ritmo que nos levam a inferir uma identificação mimética entre o esqueleto do instrumento da representação e o meu corpo, suporte de pulsão e meio de ação: sim,mimetismo; é lá que começamos, de lá a arte não sairá. Hitchcock devolve à representação um corpo e uma dança, volta a envolvê-la no circuito da Natureza, a dotá-la novamente dofascinodo basilisco; em O Ato de Matar, a premissa é pós-moderna: é dado aos sujeitos (aos objetos) da enunciação, nós espectadores, um lugar no circuito, uma cadeira no palco.

Mas a oferta é pálida, em relação à encarnação proposta por Hitchcock – ao fato de que, ao masturbar a câmera de todas as formas imagináveis, ele definitivamente nos seqüestra e amarra à câmera, nos torna cúmplices e vítimas deste monstro quesou eu: à câmera são derrogados três pessoas pronominais, a onipresença e a onipotência (a onisciência permanece na cartola do demiurgo metteur en scène) desta trindade manca que tem no diretor o terceiro e invisível vértice, o cúmplice divino. A premissa do diretor classicista é aquela dodeus absconditusouotiosusde São Tomás de Aquino: Deus criou o mundo, e ao sexto dia “se mandou”- a História humana é a história do desaparecimento do divino, de seu “ocultar-se”. Se Hitchcock, no auge da idade clássica, aposta todas as suas fichas num mimetismo da encarnação, O Ato de Matar não se abstém de nos chamar para compartilhar o segredo dos clássicos, aquilo para o qual piscavam o olho, acamara escuratabu: que tudo é objeto de encenação, que viver é representar-se no palco da pupila do Outro, que matar e ser morto são fantasmas ou máscaras que todos podemos usar (trocar, desvestir, travestir).

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